sexta-feira, 1 de junho de 2012

A cidade e o seu mito


Neste período pré-eleitoral não podemos negligenciar as fontes histórico-sociais que deram origem à nossa cidade se quisermos não só compreender os movimentos dos partidos e candidatos, como também, os sentimentos que dominam o pensamento dos eleitores.
Todo fato histórico-social, quer seja coletivo ou individual, está associado à experiência psíquica inconsciente que o originou. Esta se forma involuntariamente, isto é, nossas capacidades racionais não interferem na elaboração de nossos mitos, não inventam nada, mas podem contribuir com o processo de conscientização e de nosso desenvolvimento pessoal e social.
Segundo um dos pais fundadores da Universidade de São Paulo (USP), o sociólogo e antropólogo Roger Bastide (1898-1974): “A mitologia é uma necessidade ontológica do homem. (...) O homem continuará sendo, sim, uma máquina de fabricar mitos, o que não é grave enquanto o mito continuar sendo a expressão de nossa luta contra a incompletude, e da nossa necessidade de “ser” plenamente. O perigo reside nessa máquina ser teleguiada de fora para dentro” (O sagrado selvagem e outros ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, pp. 100, 110).
            Sendo assim, a origem de uma cidade narra o mito fundante que serve como pano de fundo dos sentimentos das pessoas, e quando este é negligenciado o seu oposto se registra na história dos seus habitantes.
A antiga cidade de Jerusalém, por exemplo, se destinava a ser uma cidade da paz, da justiça e de defesa da liberdade, mas como historicamente se negou a viver o seu mito fundador descrito pelo rei Davi no Salmo 122, ficou conhecida como aquela que mata os profetas, abandona suas crianças e velhos; contudo, apesar disso, lhe-é prometido um futuro glorioso – ser um modelo terreno nos céus, conforme o Apocalipse (21.1-6).
Quanto a Marília, porém, podemos dizer que cento e trinta e sete anos (1792) antes de Antônio Pereira da Silva, José Pereira da Silva e Bento de Abreu Sampaio Vidal (1872-1948), lançarem os seus primeiros fundamentos urbanos (1929), no alto da Serra dos Agudos, Tomás Antônio Gonzaga (1744-1809), registrava o seu “Marília de Dirceu”.
Se tomarmos como o registro mitológico de nossa terra seus primorosos versos, virtuoso representante do Arcadismo Brasileiro, temos o seguinte:
“Dirceu” enaltece o amor por “Marília”, Doroteia Joaquina de Seixas (1767-1853), mas que não se realiza, pois a família da jovem relutava com o relacionamento; em meio a um cenário político que culminou com sua deportação de Vila Rica, hoje Ouro Preto (MG), para Moçambique (África) devido à militância no movimento social da Inconfidência Mineira (1789), por combater o governo de Luís da Cunha Menezes, reconhecidamente corrupto e “brutal em seu autoritarismo” (Marília de Dirceu. São Paulo: Publifolha, 1997, pp. 7-8).
            Este é o pano de fundo ou o mito que movimenta a alma mariliense diariamente, mas que no período pré-eleitoral toma relevância devido à significação da escolha de seus representantes e administradores.
            Devido à importância do tema, continuaremos nos próximos artigos. Até lá!

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