sexta-feira, 21 de setembro de 2012

A “isca” das promessas dos políticos


Nestes dias de campanha eleitoral-partidária uma questão precisa ser respondida tanto pelos candidatos quanto pelos eleitores: O que leva as pessoas a almejarem uma cadeira no executivo ou no legislativo? Por que tais posições são tão importantes?

            Talvez, a resposta vai além de, simplesmente, ser um direito assegurado pela democracia, ou pelas vantagens que são oferecidas aos seus ocupantes.

            Porém, se formos mais conscientes, vamos verificar que se trata de uma questão muito mais profunda: entregamos ao poder a capacidade de nos gerenciar e esvaziamos a fé de que o amor, a beleza e os sonhos podem nos dar dias melhores.

            Nicolas Berdyaev (1874-1948) cristão ortodoxo russo, escreveu: “o político e o sargento, o banqueiro e o advogado, são mais fortes que o poeta e o filósofo, o profeta e o santo”. A força deles se mede pelo poder que têm nas mãos, mesmo quando lhe é concedido pelo voto, pelas ordens dos superiores, pelas promissórias ou pela procuração. Estes, como também, os homens de negócios, nunca falam sobre amor e, se o fazem, é difícil acreditar. Segundo Rubem Alves é porque “o amor não é nunca a fonte e o objetivo do que fazem. O amor é sempre um meio para o poder. A isca de amor tem sempre um anzol escondido no seu interior”.

            A “isca” das promessas de campanha, apresentadas como declaração de amor pela população, fisga muita gente, pelo anzol do poder. É o poder disfarçado de amor que vence, apresentado pelas mãos que dizem produzir e apresentar resultados. Assim as mãos sufocam o coração, de onde nascem o amor, os sonhos, a beleza. O poder vence o amor porque se acredita ser, a única razão de existir, pois ficou determinado, sabe-se lá por quem, que é o meio para alcançar os objetivos. Assim, o amor, a beleza e os sonhos, ingredientes do mistério da existência humana, são compreendidos como inexistentes, fantasiosos e mentirosos. Para o poder, não há mistério.

            Pode-se, ainda, citar outro filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), para quem o Estado é “o mais frio de todos os monstros”. Diz ele: “Vejam como o Estado os engana – os muitos – e como ele os devora, mastiga, rumina. ‘Sobre a terra nada existe maior do que eu: eu sou o dedo legislador de Deus’ – assim ruge o monstro. Não são apenas os de vista curta e orelhas compridas que caem de joelhos. Também a vós, homens de inteligência, ele segreda suas mentiras tenebrosas. Vós vos cansastes de lutar, e agora o vosso cansaço também serve o novo ídolo. Com heróis e homens de honra ele se cerca, o novo ídolo! Ele vos dará tudo se o adorardes, este novo ídolo: e é assim que ele compra o esplendor das vossas virtudes e o brilho orgulhoso do vosso olhar. E ele os usaria como isca para apanhar os muitos... Estado é o lugar onde todos bebem veneno. Estado, ali onde o vagaroso suicídio de todos é chamado de vida”.

            Para Rubem Alves “não são os homens que jogam o jogo do poder; é o poder que joga com os homens”. E, por que? Porque, para o poder, é crime acreditar que amar, ser verdadeiro e realizar o que é belo torna a vida mais feliz.

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