sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O mal pessoal e na política

            Há alguns anos atrás, no site espanhol – protestantedigital.com – foi publicada uma charge, na qual o eleitor reclamava para Deus: - “Senhor, por que sempre os piores governam?” A resposta do Altíssimo, teria sido: - “Porque tu votas neles, seu tolo!”

            O descontentamento com a vida pública é geral. Candidatos acusam uns aos outros das mazelas do executivo e do legislativo. Cada um se preocupa em imputar ao outro os equívocos, e até os erros (sabe-se, porém, que poderiam ser evitados se não fosse a avidez pelo poder). Contudo, nenhum assume as devidas responsabilidades, dando a entender que acredita que, até mesmo, o mais culto dos cidadãos é ingênuo.

Quanto aos eleitores não é diferente. Tudo começa com a escolha errada, (deliberada, às vezes) do candidato que vence o pleito, mas com grande prejuízo a todos. Como se votar fosse um “lavar as mãos”, que não implica acompanhar o exercício do mandato do escolhido. Todos nós sabemos o que isto significa na cabeça de muitos políticos: é mais importante aproveitar as oportunidades de enriquecimento pessoal e defender os próprios interesses.

            A grande dificuldade é convencer-nos de que somos sim, capazes de cometer maldades uns contra os outros. O problema é quando nos convencemos de que somos inocentes mesmo quando realizamos o mal. Como afirmou Luiz Felipe Pondé filósofo, professor da PUC/SP e articulista do jornal Folha de São Paulo: “Eliminou-se da agenda moral a consciência do mal como parte de nós mesmos, ficou apenas o hábito contumaz da mentira” (03.09.12, E8).

            Não podemos, como eleitores, ignorar que somos maus em nossas escolhas. Quanto aos candidatos, compete-lhes perceberem os males que podem causar ao povo. Eleitores e candidatos não são ingênuos nas escolhas e nas decisões que damos à vida pública.

            “Ninguém está fora da negra sombra coletiva da humanidade. Se o crime foi cometido por muitas gerações ou se apenas hoje é que se realiza, isso não altera o fato de que o crime é o sintoma de uma disposição preexistente em toda parte, de que realmente possuímos uma ‘imaginação para o mal’. Apenas o imbecil pode desconsiderar durante todo o tempo as condições de sua própria natureza. Mas é justamente essa negligência que se revela o melhor meio para torna-lo um instrumento do mal” (C. G. Jung. Presente e futuro. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 44).

            Resistimos a admitir a nossa participação na “sombra coletiva” por preconceito. Em nossa cultura ocidental, de fundo cristão, consideramos o mal como tabu. Evitamos, até mesmo, a falar sobre ele porque o tememos, ou porque não sabemos como lidar com ele. Como é impossível viver sem o percebermos em nosso meio, a não confrontação somente nos leva a projetá-lo no próximo, e é isto que nutre nossas antipatias, inimizades, e no campo político, estabelece obstáculos que prejudicam a todos.

            Num mundo em que é cada vez maior o poder de demonstrarmos o mal, inclusive na política, a razão não é suficiente para controlar-nos; temos de ampliar a noção de nossa própria maldade, se quisermos que seus efeitos na esfera político-administrativa sejam menores.

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