O
descontentamento com a vida pública é geral. Candidatos acusam uns aos outros
das mazelas do executivo e do legislativo. Cada um se preocupa em imputar ao
outro os equívocos, e até os erros (sabe-se, porém, que poderiam ser evitados
se não fosse a avidez pelo poder). Contudo, nenhum assume as devidas
responsabilidades, dando a entender que acredita que, até mesmo, o mais culto
dos cidadãos é ingênuo.
Quanto aos eleitores não é diferente.
Tudo começa com a escolha errada, (deliberada, às vezes) do candidato que vence
o pleito, mas com grande prejuízo a todos. Como se votar fosse um “lavar as
mãos”, que não implica acompanhar o exercício do mandato do escolhido. Todos
nós sabemos o que isto significa na cabeça de muitos políticos: é mais importante
aproveitar as oportunidades de enriquecimento pessoal e defender os próprios interesses.
A
grande dificuldade é convencer-nos de que somos sim, capazes de cometer maldades
uns contra os outros. O problema é quando nos convencemos de que somos
inocentes mesmo quando realizamos o mal. Como afirmou Luiz Felipe Pondé filósofo,
professor da PUC/SP e articulista do jornal Folha de São Paulo: “Eliminou-se da
agenda moral a consciência do mal como parte de nós mesmos, ficou apenas o
hábito contumaz da mentira” (03.09.12, E8).
Não
podemos, como eleitores, ignorar que somos maus em nossas escolhas. Quanto aos
candidatos, compete-lhes perceberem os males que podem causar ao povo.
Eleitores e candidatos não são ingênuos nas escolhas e nas decisões que damos à
vida pública.
“Ninguém
está fora da negra sombra coletiva da humanidade. Se o crime foi cometido por
muitas gerações ou se apenas hoje é que se realiza, isso não altera o fato de
que o crime é o sintoma de uma disposição preexistente em toda parte, de que
realmente possuímos uma ‘imaginação para o mal’. Apenas o imbecil pode
desconsiderar durante todo o tempo as condições de sua própria natureza. Mas é
justamente essa negligência que se revela o melhor meio para torna-lo um
instrumento do mal” (C. G. Jung. Presente e futuro. Petrópolis: Vozes, 1999, p.
44).
Resistimos
a admitir a nossa participação na “sombra coletiva” por preconceito. Em nossa
cultura ocidental, de fundo cristão, consideramos o mal como tabu. Evitamos,
até mesmo, a falar sobre ele porque o tememos, ou porque não sabemos como lidar
com ele. Como é impossível viver sem o percebermos em nosso meio, a não
confrontação somente nos leva a projetá-lo no próximo, e é isto que nutre nossas
antipatias, inimizades, e no campo político, estabelece obstáculos que
prejudicam a todos.
Num
mundo em que é cada vez maior o poder de demonstrarmos o mal, inclusive na
política, a razão não é suficiente para controlar-nos; temos de ampliar a noção
de nossa própria maldade, se quisermos que seus efeitos na esfera
político-administrativa sejam menores.
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