domingo, 4 de agosto de 2013

Será que precisamos ser como nossos pais?

Tendo em vista o Dia dos Pais, a ser comemorado no próximo domingo, acredito que podemos nos preparar de forma mais consciente, sem nos deixarmos levar, tanto, pelas peças publicitárias.
Em muitas situações da vida sentimos e agimos como nossos pais, quer dizer, parece que enxergamos e interpretamos as nossas próprias circunstâncias, senão através do mesmo ponto de vista deles, muito próximos. Como a gaúcha Elis Regina (1945-1982), cantamos: “Apesar de termos / Feito tudo, tudo, / Nós ainda somos / Os mesmos e vivemos / Como os nossos pais / Nossos ídolos / Ainda são os mesmos”.
Não importa o quanto protestamos contra esta realidade, mas, as experiências vivenciadas que guardamos de nossos pais e as fantasias que elaboramos a respeito deles, estão integralmente agregadas em nossa alma, e nos influenciam tão fortemente, que “as aparências não enganam não”, como encerra a letra de “Como nossos pais”, composta pelo cearense Belchior (1946-).
Durante a nossa vida, nos servimos destas experiências e fantasias como “filtros”, isto é, mediamos as nossas experiências com o resto do mundo, inclusive com os nossos próprios pais, às vezes conscientemente, e, às vezes, somos inconscientes neste processo.
Na linguagem psicológica estamos tratando de “complexos”.
Conforme a psicologia analítica, complexos são: “Núcleos afetivos da personalidade, provocados por um embate doloroso ou significativo do indivíduo com uma demanda ou um acontecimento no meio ambiente, acontecimento para o qual ele não está preparado” (KAST, V. Pais e filhas. Mães e filhos. São Paulo: Loyola, 1997, p. 31).
            A importância deste assunto é crucial, tanto para as filhas quanto para os filhos, principalmente, se os pais acabam por desempenhar como os nossos avós na transmissão dos mesmos padrões limitadores que herdaram, se esquecendo de que podem enriquecer um mundo tão necessitado de portadores de novas mentes.
            “A reflexão sobre a imagem arquetípica do pai nos leva às energias criativas ou destrutivas. O sêmen insemina, seja o útero, o seminário ou a escola. Ele é um princípio ativador. Mesmo não sendo a própria vida, ele precisa ser vigoroso para poder criar. Ele precisa ser, de alguma forma, um espírito inspirador, pois o espírito é o princípio energético da vida. [...] Quando o indivíduo teve a graça de uma benção paterna, um exemplo paterno, ou um sacrifício paterno, ele tem o privilégio de se sentir valorizado, capacitado para as tarefas da vida, e parte de um círculo de afetos conectivos. Quando o sujeito não experimenta essas dádivas mediadas por um pai pessoal ou um substituto, ele se sente incapacitado, e poderá passar toda a sua vida em busca de uma autoridade sucedânea, de uma compensação exagerada através do complexo de poder, ou poderá viver uma vida de inabilidade inconsciente perante seus próprios poderes” (HOLLIS, J. Mitologemas: encarnações do mundo invisível. São Paulo: Paulus, 2005, pp. 55-56).

            Isto nos leva a refletir sobre a mensagem mais importante da canção “Como nossos pais”: “Você que ama o passado e que não vê / Que o novo sempre vem”, não importa a forma, mas sempre como uma paixão que encanta; como uma invenção que move o mundo como o vento impulsiona o cata-vento; como uma nova estação.

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