domingo, 22 de junho de 2014

Agitações pessoais e a Copa do Mundo (2)

“Fica difícil esperar evolução com Fred apagado, Paulinho atrasado, Ramires perdido, Marcelo desengonçado, Oscar atrapalhado, e até Neymar distraído. Quem arma? Agita, Felipão!”, assim comentou Antero Greco no Estadão (18.06.14, p. E4), sobre o jogo Brasil e México, na última terça-feira (17.06), que terminou no zero a zero.
            Greco contribui para refletirmos no seguinte: no jogo da vida nem sempre apresentamos aquilo que desejamos ser; nem sempre é possível sermos eficientes em nossas obrigações. Parece que há momentos que uma parte nossa se delicia em ser prática, enquanto que outra se deixa levar por intuições que anseiam por algo que está faltando, deixando-nos atrapalhados.
Na primeira metade da vida ocupamo-nos em construir uma carreira que nos assegure algum conforto, encontrar companheiros que nos acompanhe pela vida, sustentar a família, realizar as tarefas que a maioria das pessoas espera de nós como se as dificuldades não existissem, como se viver fosse um movimento vigoroso, ascendente, promissor, apenas, de recompensas. Esforçamo-nos, cada vez mais, em melhorar nossa capacidade de ganhar dinheiro, sermos mais disciplinados, mais dedicados e mais produtivos economicamente.
Entretanto, este movimento nos torna, perigosamente, unilaterais – quer dizer, deixamos de lado tudo aquilo que somos, que sentimos que pode nos atrapalhar a alcançar os objetivos que estabelecemos com prioridade, como: formação acadêmica, exercício profissional e uma personalidade bem sucedida.
Quando chegamos em um momento da meia-idade (30-35 anos de idade), a psique nos apresenta componentes que transcendem àqueles que acreditamos possuir, que julgamos suficientes, nos leva a buscar o que é autêntico, verdadeiro e significativo. É como se uma vida não vivida se erguesse de dentro de nós, exigindo nossa atenção. É a psique que nos leva a sentir que não dá mais para continuar apagados, atrasados, perdidos, desengonçados, atrapalhados e distraídos com nós mesmos. E, se insistirmos nesta condição, o resultado é: pesar, frustração, medo, ansiedade, depressão, raiva, angústia, revolta, ressentimentos, pânico, tédio e decepção.
Na meia-idade ouvimos a vida não vivida segredar em nossos ouvidos interiores: “Eu teria que...”; “Eu poderia...”; “Eu deveria...” - acerca das escolhas feitas na vida. Muitas capacidades não foram desenvolvidas a contento, alguns talentos foram enterrados, outros tantos, simplesmente, foram subdesenvolvidos. Não importam as conquistas já realizadas, sempre há algo de nós mesmos que deixamos para trás, que não foi vivido. É quando se percebe que a vida não foi plenamente realizada.
“Na segunda metade da vida, a fome dos pedaços que estão faltando, em geral, torna-se acentuada. Começamos a perceber que o tempo está se esgotando. Então, quase sempre começamos reorganizando as coisas no exterior. Tais mudanças nos distraem por algum tempo, mas o que é realmente exigido é uma mudança de consciência” – opinam Robert A. Johson e Jerry M. Ruhl (Viver a vida não vivida. Petrópolis: Vozes, 2011, p. 22).

Os jogadores da Seleção Brasileira expõem nossas mais verdadeiras projeções, nossos potenciais de grandeza, mas também, nossas poderosas fraquezas. Cabe-nos conscientizar-nos das nossas e, eles as deles. Esta é a “agitação” necessária!

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