segunda-feira, 9 de junho de 2014

Namoro: culpa e liberdade

O sentimento de culpa ronda os relacionamentos que pedem uma intimidade mais intensa. O namoro é um deles. Não é raro alguns namorados sentirem que não podem estar tão bem quando estão apaixonados. É como se ficassem de “consciência pesada”, curtindo o sentimento de que não “devem” ter nada de bom porque não “merecem” especialmente quando os pais criticam a escolha feita, ou, a simples pretensão se manifesta.
            Na verdade, quando investimos num relacionamento com alguém, os pais não podem mais ser tão importantes, para que o desenvolvimento da personalidade aconteça de maneira livre, sem impedimentos, pessoal, própria. O encontro com algum(a) desconhecido(a) faz parte do desenvolvimento psíquico humano. Esta experiência precisa ser solitária para que a identificação com o complexo parental não determine a escolha ou a pretensão. Por que, o mais comum, é que a escolha se conforme às ideias carregadas emocionalmente associadas com a experiência que tem com os pais.
            Se a escolha do(a) namorado(a) seguir os mesmos critérios que caracterizam a interação com os nossos pais, a capacidade de construir as próprias relações com independência, criatividade e responsabilidade fica prejudicada. E, infelizmente, não são poucos os casos em que os pais acreditam que os filhos fossem uma espécie de prolongação suas, e acham que podem e devem decidir por eles.
            Neste caso, cabe aos filhos se esforçarem, e às vezes, com um grande esforço, a assumirem o controle de suas emoções, para que a escolha não fique na idealização dos seus pais, mesmo que isto gere alguma culpa.
            A culpa gera venenos de toda sorte nos corações que se sentem impedidos em escolher, tais como: depressão, tristeza, agressividade, ressentimentos, inveja, mau humor, e desgosto em estar vivo. A pessoa que sente que foi destruído aquilo que lhe dava mais vontade de viver – amar -, inconscientemente envenena a tudo e a todos ao redor, como que destila veneno, e: não acredita mais em si mesma, desvaloriza a sua vocação profissional, critica aos bem sucedidos no amor, arma intrigas entre amigos, facilmente desiste das novas oportunidades oferecidas pelo amor, torna-se destrutiva e autodestrutiva, etc.
            Não existe outra saída senão assumir a responsabilidade pelo veneno, se separar dos pais, partir para descobrir novas coisas em si mesmo(a), deixar o velho sistema de atender as condições de terceiros (os pais) para ser amado e querido, reencontrar as fantasias centrais de vida e inseri-las na vida e atender as necessidades físicas. Quer dizer: é possível cortar o efeito do veneno, encontrar em si mesmo(a) os lados que revigoram e não envenenem mais a vida, aprender a perceber a si mesmo(a), a se expressar como indivíduo único, separado dos pais e, entrar, em definitivo, no mundo.
            Quer dizer: é possível viver o lado positivo do complexo materno e paterno, isto é, conviver com a autoridade e valores espirituais; buscar e desenvolver interesses mais espirituais e menos materiais ou ligados ao físico; considerar que a amizade pode ser uma expressão muito forte, em muitos casos, especialmente, quando se tem motivos para separações e distanciamentos; ter disposição para fazer sacrifícios por questões que considera justas que atendem a mais pessoas; envolver-se em mudar as estruturas do mundo, com um espírito mais perseverante, audacioso, firme e, até, revolucionário.

            Uma palavra aos pais: quando os filhos namoram, pode ser uma experiência de grande felicidade. Não precisa ser ansiosa. É importante que os filhos possam experimentar a alegria de superarem a dependência dos pais, a sensação de que não podem nada sem eles. 

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