domingo, 2 de agosto de 2015

A alienação homem-animal, precisa ser vencida


A cada dia aumenta a quantidade de animais abandonados nas ruas; cresce o número dos que são envenenados por vizinhos incomodados; outros tantos, maltratados pelos próprios proprietários; muitos administradores de estabelecimentos que resgatam animais em precárias condições de saúde promovem campanhas de doações e solicitam a ajuda para a manutenção de suas atividades; não são poucos aqueles que se levantam contra animais em cativeiro para experimentos científicos; e, há uma enorme variedade de sociedades de amparo e proteção a animais. E, os protestos contra a derrubada e corte de árvores, no campo e na cidade, compõem o mesmo quadro.
A notícia da morte do leão Cecil, esta semana, mobilizou milhares de pessoas em todo o mundo. No último dia 06 de julho, Cecil, leão símbolo da preservação da vida selvagem, foi morto no Parque Nacional de Hwange, no Zimbábue, África, ao ser atraído para fora da área de proteção do parque, por uma carcaça de animal preso à traseira do veículo conduzido pelos caçadores: Walter James Palmer, Theo Bronkhorst e Honest Ndlovuum. Cecil foi alvejado por um tiro, sua cabeça e pele foram arrancadas.
A morte de Cecil e os casos que envolvem o sofrimento e a morte de animais, e o desmatamento de grandes áreas florestais nos levam a refletir quanto à relação do homem com a ordem natural. Expõe-nos o grau de alienação existente com os nossos instintos. Com exceção de São Francisco de Assis, a animalidade dos humanos está banida da vida psíquica, social e, até da prática religiosa.
A relação entre os seres humanos, os animais e o “animal interior” aguarda por uma atitude pessoal e única. A cultura é um instrumento de dominação do animal que existe em nós, mas não nos protege de sua reação, antes, essa energia se acumula e reage, principalmente quando a organização social é moralmente hipócrita, ao excluir/banir os opostos que contestam o que é determinado como “normal” e “natural”, como a que estamos vivendo em nossos dias.
“A falta de respeito pelo “irmão animal” desperta o animal em nós. Para que uma verdadeira humanidade seja possível, é necessário que haja uma relação com os animais”, segundo o historiador da Universidade de Londres, Sonu Shamdasani (Jung e a construção da psicologia moderna. Aparecida (SP): Ideias & Letras, 2005, p. 274).
As manifestações a favor da preservação dos animais domésticos e/ou selvagens, ou de preservação das árvores, especialmente, em nossas ruas e avenidas, vêm de pessoas que, provavelmente, estão em harmonia com o seu “lado animal”.
Para Jung: “Na natureza, o animal é um cidadão bem comportado. É piedoso, segue os caminhos com grande regularidade, não faz nada de extravagante. Só o homem é extravagante. Por isso, se a pessoa assimilar o caráter do animal, se tornará um cidadão especialmente zeloso das leis, se movimentará devagar, demonstrando ser razoável em vários momentos, na melhor medida de suas possibilidades” (Notas sobre o Seminário ministrado entre 1930-1934).

(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto Junguiano de São Paulo (IJUSP), pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)


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