A cada dia
aumenta a quantidade de animais abandonados nas ruas; cresce o número dos que
são envenenados por vizinhos incomodados; outros tantos, maltratados pelos
próprios proprietários; muitos administradores de estabelecimentos que resgatam
animais em precárias condições de saúde promovem campanhas de doações e
solicitam a ajuda para a manutenção de suas atividades; não são poucos aqueles
que se levantam contra animais em cativeiro para experimentos científicos; e,
há uma enorme variedade de sociedades de amparo e proteção a animais. E, os
protestos contra a derrubada e corte de árvores, no campo e na cidade, compõem
o mesmo quadro.
A notícia da morte
do leão Cecil, esta semana, mobilizou milhares de pessoas em todo o mundo. No
último dia 06 de julho, Cecil, leão símbolo da preservação da vida selvagem,
foi morto no Parque Nacional de Hwange, no Zimbábue, África, ao ser atraído
para fora da área de proteção do parque, por uma carcaça de animal preso à traseira
do veículo conduzido pelos caçadores: Walter James Palmer, Theo Bronkhorst e
Honest Ndlovuum. Cecil foi alvejado por um tiro, sua cabeça e pele foram arrancadas.
A morte de Cecil
e os casos que envolvem o sofrimento e a morte de animais, e o desmatamento de
grandes áreas florestais nos levam a refletir quanto à relação do homem com a
ordem natural. Expõe-nos o grau de alienação existente com os nossos instintos.
Com exceção de São Francisco de Assis, a animalidade dos humanos está banida da
vida psíquica, social e, até da prática religiosa.
A relação entre
os seres humanos, os animais e o “animal interior” aguarda por uma atitude
pessoal e única. A cultura é um instrumento de dominação do animal que existe
em nós, mas não nos protege de sua reação, antes, essa energia se acumula e
reage, principalmente quando a organização social é moralmente hipócrita, ao
excluir/banir os opostos que contestam o que é determinado como “normal” e
“natural”, como a que estamos vivendo em nossos dias.
“A falta de
respeito pelo “irmão animal” desperta o animal em nós. Para que uma verdadeira
humanidade seja possível, é necessário que haja uma relação com os animais”,
segundo o historiador da Universidade de Londres, Sonu Shamdasani (Jung e a
construção da psicologia moderna. Aparecida (SP): Ideias & Letras, 2005, p.
274).
As manifestações
a favor da preservação dos animais domésticos e/ou selvagens, ou de preservação
das árvores, especialmente, em nossas ruas e avenidas, vêm de pessoas que,
provavelmente, estão em harmonia com o seu “lado animal”.
Para Jung: “Na
natureza, o animal é um cidadão bem comportado. É piedoso, segue os caminhos
com grande regularidade, não faz nada de extravagante. Só o homem é
extravagante. Por isso, se a pessoa assimilar o caráter do animal, se tornará
um cidadão especialmente zeloso das leis, se movimentará devagar, demonstrando
ser razoável em vários momentos, na melhor medida de suas possibilidades”
(Notas sobre o Seminário ministrado entre 1930-1934).
(Sílvio
Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto Junguiano de São Paulo (IJUSP), pertencente à
Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP – International
Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)
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