Negamos
nossas responsabilidades pessoais nos problemas que nos acontecem. Estamos
convictamente convencidos que as situações difíceis ligadas à política
(nacional e local), meio ambiente, cultura, saúde, direito, economia e às
relações interpessoais em geral, não são nossos reais problemas. Apressamo-nos para
saber o que aconteceu deu errado e, rapidamente, concluímos que se deve aos outros.
Segundo
James Hillman (1926-2011), isto se deve ao ideal protestante ocidental que
busca a plena e irrestrita independência do “eu” frente a todas as realidades
que nos cercam, por não admitirmos a ideia de que somos seres interdependentes
(Uma busca interior em psicologia e religião. São Paulo: Paulinas, 1984).
Contudo, na opinião de C. G. Jung (1875-1961), precisamos: “Descobrir coisas
até então inconscientes, [...] perceber as forças impessoais que se ocultam em
seu interior” (Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes, 1990, p. 54).
Ao
considerar que os problemas estão fora de mim, e que me cabe resolvê-los,
permaneço inconsciente acerca de mim mesmo, isto é, vivo como se tivesse poder
de “tirar o cisco do alheio, sem perceber a trave que existe no meu”, conforme
o ensino das Escrituras Sagradas.
Na
realidade, nosso problema somos nós mesmos. O meu problema sou eu. O seu
problema é você. Nossos problemas revelam quem somos. Negamos energicamente
esta realidade, porém tomamos os problemas como sendo criados por terceiros.
“Tu
queres fugir de ti, para não teres de viver aquilo que não foi vivido até
agora. Mas não podes fugir de ti mesmo. Isto está todo o tempo contigo e exige
realização. Se te colocares cega e surdamente esta exigência, tu te colocarás
cega e surdamente contra ti mesmo. Então jamais alcançarás o saber do coração.
O saber do coração é como teu coração é. De um coração mau, conheces coisas
más. De um coração bom, conheces coisas boas. Para que vosso conhecimento seja
completo, considerai que vosso coração é ambos: bom e mau” (O Livro Vermelho,
p. 233, 234).
Precisamos
“realizar” a nós mesmos, ou seja, ver e ouvir o que realmente somos
interiormente, se quisermos adquirir alguma sabedoria na administração daquilo
que existe no exterior que nos rodeia.
Ainda
no Livro Vermelho (p. 235), Jung nos lembra da fábula do “santo que, ao sentir
nojo dos doentes da peste, tomava o pus de suas feridas e notava que tinha um
odor como o das rosas”.
Precisamos
resistir à tentação de atribuir às contingências a razão de nossa infelicidade.
Em outro lugar, Jung afirma: “A vida não vem das coisas, mas de nós” (O Livro
Vermelho. Petrópolis: Vozes, 2010, p. 239).
Como a foto do Sebastião Salgado sugere: para fazer bem o meu trabalho preciso me valer da minha própria luz, e você da sua.
(Sílvio
Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Candidato a Analista pelo Instituto de Psicologia Analítica de Campinas (IPAC),
pertencente à Associação Junguiana do Brasil (AJB), ambos filiados à IAAP –
International Association for Analytical Psychology (Zurique/Suíça) - Fones: 99805.1090 / 98137.8535 - http://psijung.blogspot.com/)
Nenhum comentário:
Postar um comentário