domingo, 25 de março de 2012

Política com credibilidade


            “Ninguém sabe como nem quando começa exatamente uma crise institucional. Mas todo mundo sabe hoje do descrédito que permeia a área política”.
            Esta opinião do jornalista Washington Novaes, publicada no “Estadão” (23.03.12, A2), nos ajuda a compreender melhor os problemas político-administrativos que acometem a nossa cidade.
Contudo, aqueles que nos representam politicamente precisam buscar em si mesmos as reais razões de tanto “descrédito” que ronda suas atividades, quer no âmbito executivo ou legislativo, e em suas instituições político-partidárias.
Não é por acaso que a Lei da Ficha Limpa foi debatida por toda a sociedade e será aplicada nas próximas eleições, como esforço de aumentar o “crédito” da vida política em todo o País. Talvez, demore algum tempo pelos resultados de sua aplicação, mas já indica um primeiro passo, de uma longa jornada. Nestes momentos é bom nos lembrarmos das palavras de C. G. Jung (1875-1961): “Não é apenas o passado que nos condiciona, mas, também o futuro, que muito tempo antes já se encontra em nós e lentamente vai surgindo de nós mesmos” (O Desenvolvimento da Personalidade. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 115).
As transformações histórico-sociais que tanto almejamos são como sementes, que precisam ser lançadas na arena dos debates. É verdade que alguns têm as mãos carregadas de sementes como a discórdia, ódio, vingança, ambição, indiferença e pressa por resultados. Porém, ainda assim é possível fazer política com credibilidade. Não com ingenuidade, mas com sabedoria.
O desafio está posto: quanto mais diferentes são as ideias e as intenções no enfrentamento dos problemas pelos quais a cidade passa, tanto maiores são as diferenças reveladas sobre quem são as pessoas, por dentro. Cito mais uma vez Jung, que afirmou: “Nosso modo de ser condiciona nosso modo de ver” (Freud e a Psicanálise. Petrópolis: Vozes, 1989, p. 324).
Nos debates, é preciso deixar de lado a rigidez de pensamentos que nutrem as estruturas pessoais de poder, para que experimentemos uma nova experiência de cidadania, e irmos além das simples reclamações lamuriosas que tanto nos prendem a um estágio infantilizado da vida pública, que tem servido àqueles que estão acostumados a tratar o eleitor como dependente de suas necessidades, e não como protagonista das mudanças que é capaz de realizar.
As queixas que fazemos acerca dos problemas da cidade nas rodas sociais deixam-nos a impressão de que muito pouco é possível ser feito para alterar a sua realidade, e leva-nos a um estado de desânimo e fúria. Ora, desanimados e enfurecidos uns contra os outros, temos represadas as emoções mais positivas que podem nos mobilizar a uma tarefa mais eficiente, sufocando as boas sementes que surgem quando há espaço para a interação das ideias. E, a interação exige humildade, que como sentimento, só aflora quando há reflexão sincera e aberta a alteridade.
A interação mobiliza sentimentos inconscientes que não gostaríamos de sermos afetados por eles como, por exemplo, ter domínio sobre os outros e os preconceitos sociais que nos leva a desejar a agredir e destruir o próximo. Mas, também, que pertencemos a algo maior que o nosso mundo individual.

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