Desde
que o homem percebeu a realidade do outro, apresenta e desenvolve em seus
relacionamentos, variando intensidades, os mesmos padrões emocionais de
atitudes e de imagens sobre quem é o outro para si. Isto é, a convivência com o
outro é uma experiência arquetípica, ou ainda, psiquicamente somos equipados
com padrões primordiais quanto ao contato e relacionamento com outras pessoas.
É
disto, justamente, que aborda o Dia Nacional da Consciência Negra.
Trata-se de uma reflexão quanto à necessária percepção da realidade do outro e
dos diferentes pólos que estas relações proporcionam. Tal reflexão vai além das
ações afirmativas nos campos culturais, econômicos e sociais. Passa pelo campo
psíquico, a saber, a vivência do Arquétipo da Alteridade. É o outro que me
enriquece.
Se a
vivência do Arquétipo Matriarcal leva-nos a um relacionamento maternal, ou
seja, a adotar cuidados como uma mãe trata e se apega aos filhos que, na
maioria das vezes, pela grande intimidade que se estabelece, impede o
desenvolvimento pessoal do outro e, a vivência do Arquétipo Patriarcal leva-nos
a um relacionamento paternal, isto é, a assumirmos uma posição mais abstrata,
distanciada, assimétrica e elitista, que tantos prejuízos psicológicos provoca aos
filhos, a vivência do Arquétipo da Alteridade nos chama para um relacionamento
dialético, isto é, de aproximações, de comparações, de trocas de valores, de
confrontos com o diferente, de flexibilidades.
No
caso do País, sob a regência do Arquétipo Patriarcal, estabelecemos uma
sociedade hierarquizada, desigual e elitista. Sob a regência do Arquétipo
Matriarcal, organizou-se uma sociedade dependente de superpotências, trazendo
como consequência um forte sentimento de autocomiseração. Ambos legaram-nos um
povo pobre de heróis, com uma memória sociopolítica míope, deixando à mostra as
vísceras da miséria, da injustiça, da violência, da corrupção, do abandono e
diferenças sociais, um princípio de alteridade violentado.
Segundo
Carlos Byington: “É com essa capacidade de avaliação da relação
Matriarcal-Patriarcal, pelo Arquétipo da Alteridade que nos permite ver a luz e
a sombra da civilização e onde há que se penetrar e buscar resgatar as feridas
da humanização” (Terra Brasilis: Pré-história e arqueologia da psique. São
Paulo: Paulus, 2006, p. 226).
Quer
dizer: Casa Grande e Senzala, antes separadas pelas forças dominantes, são
irmãs univitelinas à espera de um resgate psíquico, apesar das
complexidades implicadas e, exige tempo e paciência, mas, principalmente,
perseverança e luta para diminuirmos o fosso que insiste persistir e, que às
vezes, contribuímos.
Só o
Arquétipo da Alteridade pode nos conduzir a bom termo, num processo humanitário
e humanizador. A nossa identidade cultural apresenta aspectos que contém todos
os elementos necessários para a vivência do Arquétipo da Alteridade, com suas
benfazejas riquezas distribuídas em todas as regiões brasileiras, a saber: a
musicalidade e seus ritmos maravilhosos; a diversidade religiosa ameríndia,
africana e européia; a festividade definida pela alegria extrovertida; e, a
singularidade da maravilhosa Língua Portuguesa, com sua variedade regionalista.
Aproveitemos as condições que nos amalgamam tão
fortemente, numa mestiçagem rica de significados que pode produzir um povo mais
feliz!
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