domingo, 23 de novembro de 2014

A riqueza dos brancos está nos negros, e vice-versa

Desde que o homem percebeu a realidade do outro, apresenta e desenvolve em seus relacionamentos, variando intensidades, os mesmos padrões emocionais de atitudes e de imagens sobre quem é o outro para si. Isto é, a convivência com o outro é uma experiência arquetípica, ou ainda, psiquicamente somos equipados com padrões primordiais quanto ao contato e relacionamento com outras pessoas.
É disto, justamente, que aborda o Dia Nacional da Consciência Negra. Trata-se de uma reflexão quanto à necessária percepção da realidade do outro e dos diferentes pólos que estas relações proporcionam. Tal reflexão vai além das ações afirmativas nos campos culturais, econômicos e sociais. Passa pelo campo psíquico, a saber, a vivência do Arquétipo da Alteridade. É o outro que me enriquece.
Se a vivência do Arquétipo Matriarcal leva-nos a um relacionamento maternal, ou seja, a adotar cuidados como uma mãe trata e se apega aos filhos que, na maioria das vezes, pela grande intimidade que se estabelece, impede o desenvolvimento pessoal do outro e, a vivência do Arquétipo Patriarcal leva-nos a um relacionamento paternal, isto é, a assumirmos uma posição mais abstrata, distanciada, assimétrica e elitista, que tantos prejuízos psicológicos provoca aos filhos, a vivência do Arquétipo da Alteridade nos chama para um relacionamento dialético, isto é, de aproximações, de comparações, de trocas de valores, de confrontos com o diferente, de flexibilidades.
No caso do País, sob a regência do Arquétipo Patriarcal, estabelecemos uma sociedade hierarquizada, desigual e elitista. Sob a regência do Arquétipo Matriarcal, organizou-se uma sociedade dependente de superpotências, trazendo como consequência um forte sentimento de autocomiseração. Ambos legaram-nos um povo pobre de heróis, com uma memória sociopolítica míope, deixando à mostra as vísceras da miséria, da injustiça, da violência, da corrupção, do abandono e diferenças sociais, um princípio de alteridade violentado.
Segundo Carlos Byington: “É com essa capacidade de avaliação da relação Matriarcal-Patriarcal, pelo Arquétipo da Alteridade que nos permite ver a luz e a sombra da civilização e onde há que se penetrar e buscar resgatar as feridas da humanização” (Terra Brasilis: Pré-história e arqueologia da psique. São Paulo: Paulus, 2006, p. 226).
Quer dizer: Casa Grande e Senzala, antes separadas pelas forças dominantes, são irmãs univitelinas à espera de um resgate psíquico, apesar das complexidades implicadas e, exige tempo e paciência, mas, principalmente, perseverança e luta para diminuirmos o fosso que insiste persistir e, que às vezes, contribuímos.
Só o Arquétipo da Alteridade pode nos conduzir a bom termo, num processo humanitário e humanizador. A nossa identidade cultural apresenta aspectos que contém todos os elementos necessários para a vivência do Arquétipo da Alteridade, com suas benfazejas riquezas distribuídas em todas as regiões brasileiras, a saber: a musicalidade e seus ritmos maravilhosos; a diversidade religiosa ameríndia, africana e européia; a festividade definida pela alegria extrovertida; e, a singularidade da maravilhosa Língua Portuguesa, com sua variedade regionalista.
Aproveitemos as condições que nos amalgamam tão fortemente, numa mestiçagem rica de significados que pode produzir um povo mais feliz!

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