domingo, 30 de novembro de 2014

Racismo: atitude egocêntrica

Você se conhece através dos outros. E, os outros são diferentes de você. São os outros que fazem você sentir-se participante de um grupo, do mundo. “Que coisa esquisita seria um corpo, se tivesse um único membro! Assim foi que Deus fez muitos membros, mas ainda é um corpo só. O olho nunca pode dizer à mão: ‘não preciso de você’. A cabeça não pode dizer aos pés: ‘não preciso de vocês” (I Coríntios 12.19-21).
A alteridade nos aproxima de nós mesmos, e amplia o conhecimento sobre nós mesmos: nossas potencialidades e fragilidades, nossas competências e deficiências, nossas grandezas e pequenez, nossas luzes e sombra. Tanto no campo pessoal como coletivo, individual como social, de uma só pessoa como de uma nação.
Mas, quando pensamos no outro, no diferente, temos de enfrentar em nosso País, a grave questão do racismo, infelizmente.
Jaqueline Gomes de Jesus, doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, pela Universidade de Brasília (UnB), traz a contribuição de vários estudiosos acerca do racismo, que o definem como: “Um conjunto de estereótipos, preconceitos e discriminações de cunho depreciativo, relacionado a características fenotípicas e/ou étnicas de pessoas e grupos, que incorrem na hierarquização e na exclusão de pessoas e grupos com relação a outros, tanto em nível individual quanto grupal, coletivo e institucional. A atitude do preconceito se aproxima, em termos de mobilização psíquica, da experiência de fobias específicas e, portanto, do sentimento do asco, do nojo, que, no contexto das relações humanas, pode ser definido como uma sensação extrema de repulsa interpessoal. [...] Assim, como um tipo complexo de fobia, o racismo tem entre seus elementos o medo do contato com pessoas negras” (O Desafio da Convivência: Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas (2004-2008). Revista Psicologia: Ciência e Profissão, 2013, 33 (1), p. 224).
É importante perceber que o ego, o centro da personalidade consciente, é que formula os estereótipos, os preconceitos, as discriminações. Os estabelecemos por que queremos, por que escolhemos fazê-los, e deles tiramos proveito pessoal, assim revelamos o quanto somos egocêntricos. Por isso a psicologia está envolvida na questão, oferecendo-nos uma possibilidade de alcançar uma solução.
“O processo de psicoterapia procura alterar os referenciais egocêntricos, introduzindo o ponto de vista do Si-mesmo. Quando a terapia é bem sucedida, ocorre uma salutar mudança dos referenciais conscientes egocêntricos para o ponto de vista mais amplo do Si-mesmo”, conforme John A. Sanford (Mal: o lado sombrio da realidade. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 17). Para o psicólogo junguiano e pastor anglicano Sanford (1929-2005), o Si-mesmo, “é a parte central do todo da personalidade que abrange o ego e o supera” (idem).
Se considerarmos que as ações que intervém no sistema segregacionista que mediam as relações raciais em nossa sociedade, precisamos participar delas, tomando-as como caminhos indicados pelo Si-mesmo.

O Si-mesmo é o portador da energia psicossocial que pode transformar a nossa sociedade, mas começando com cada um de nós. Você está disposto?

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