segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Por que você acredita em mentiras, maledicência, boatos?

            De acordo com os melhores códigos da imprensa em geral, as informações precisam ter origem em fontes com credibilidade. Se a fonte for considerada “duvidosa” simplesmente não se publica. E não foi isto que aconteceu com a última edição da revista Veja, quando afirmou que a presidente Dilma Rousseff sabia previamente do esquema de corrupção mantido na Petrobras, e que o ex-presidente Lula foi o seu articulador, segundo depoimento do doleiro Alberto Youssef, preso sob acusação de ser o comandante deste esquema e de outros, pelos quais já foi condenado.
“Não havendo tempo para a apuração completa, o jornalista deve publicar aquilo de que dispõe no momento, desde que rigorosamente checado, e pode estender sua investigação aos dias seguintes, se o fato for significativo o suficiente para voltar às páginas do jornal” (Manual de Redação da Folha de São Paulo. 2001, p. 25).
Informação sem investigação, em jornalismo, é considerada panfletagem. E, segundo o jornalista Luciano Costa: “Transformados em panfletos, os órgãos de comunicação reforçam a tendência que marca sua linguagem e seu discurso e que, de maneira muito clara, denota sua relação com o público” (Observatório da Imprensa. Edição 683, 02/03/2012).
Jornalismo se faz com provas, pistas, indícios, evidências, e não suspeitas. Jornalismo é exercido com equidistância, imparcialidade, isenção. Jornalismo não manipula os leitores, telespectadores e/ou os ouvintes. Jornalismo não vitima o público.
O povo brasileiro merece respeito e deve exigir dos meios de comunicação um jornalismo sério e responsável, fruto de uma investigação persistente e incansável.
E, para piorar ainda mais as coisas, as redes sociais disseminam toda espécie de factóides e meias-verdades que povoam o imaginário coletivo.
Como psicólogo junguiano, observo que esta situação demonstra a existência de um fator inconsciente fortemente vivo e ativo na psique brasileira.
Este fator consiste em se deixar levar por fofocas, inverdades, boatos, maledicências; ser possuído por um baixo senso crítico; confiar num enganoso domínio racional sobre as emoções a ponto de ver ameaçadas e, em alguns casos, não se importar de arruinar amizades antigas, laços familiares íntimos, relações de trabalho, credibilidades pessoais e convivências psicossocioculturais, como por exemplo, entre nordestinos e sulistas.
“Os tempos atuais e seus jornais parecem uma clínica psiquiátrica gigantesca, qualquer observador atento tem oportunidade de sobra para captar estes aspectos intuitivamente. Mas não se deve esquecer a seguinte regra: o inconsciente de uma pessoa se projeta sobre outra pessoa, isto é, aquilo que alguém não vê em si mesmo, passa a censurar no outro. Este princípio tem uma validade geral tão impressionante que seria bom se todos, antes de criticar os outros, se sentassem e ponderassem cuidadosamente se a carapuça que querem enfiar na cabeça do outro não é aquela que se ajusta perfeitamente a eles”, afirma C. G. Jung (Civilização em transição. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 29).

Somente uma sincera, honesta e minuciosa investigação na vida própria, para verificar que aquilo que não reconhecemos em nós é transferido ou projetado inconscientemente para o outro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário