domingo, 22 de fevereiro de 2015

A dengue está nos deixando "loucos" de...

              A cidade alemã de Hamelin, em 1284, segundo o conto “O flautista de Hamelin”, dos irmãos Grimm, estava infestada de ratos devido às precárias condições de limpeza urbana e doméstica de seus habitantes. Num certo dia, um estranho viajante se oferece para resolver o problema, mediante um pagamento: uma moeda de cada morador. Todos, inclusive os administradores da cidade, aceitam a proposta. O viajante, então, sai pelas ruas tocando sua flauta. Os ratos, como que enfeitiçados pela melodia, seguem-no, até as margens do rio Weser, onde morrem afogados. A cidade livre dos ratos e das doenças se nega a pagar pelo trabalho do viajante, que promete retornar para acertar a pendenga. Ao regressar, passa pelas ruas tocando sua flauta encantatória, atraindo desta vez a todas as crianças que, seguindo-o até a uma caverna, lá são trancadas para sempre, enquanto os seus pais participavam de uma cerimônia religiosa.
            O conto suscita algumas imagens em nossa alma: Uma cidade sem um serviço básico de saúde descente, com condições mínimas de fazer frente às doenças que os ratos transmitem como toxoplasmose, leptospirose e parasitas como giárdia que causam diarréia, tanto em seres humanos quanto em outros animais; casas, ruas, avenidas e praças sujas por moradores e autoridades desleixados; falta de médicos e remédios; venenos, ratoeiras e gatos insuficientes; pessoas aguardando alguma atitude das autoridades que, como ratos, roíam o dinheiro do povo com coisas inúteis para a sua proteção apesar de pagarem taxas e impostos, cada vez mais altos; mães e pais, que deixam seus filhos e filhas sozinhos em casa, porque se proliferam como ratos, e que buscam por uma religião contrária ao controle da natalidade; crianças que, como ratos de laboratório, se adaptam a viver em gaiolas, isto é, sem opções de brincar, somente assistir a televisão e jogar vídeos games e, tragicamente, se acostumam a serem cobaias de experiências dos produtos oferecidos no mercado, inclusive aos direcionados aos adultos; pessoas e autoridades que, como ratos, fogem do compromisso para com aqueles que apontam para a solução do problema, mas que a semelhança dos ratos, podem se vingar terrível e friamente, sequestrando o nosso futuro.
            Estas imagens nos falam do ataque de emoções que à semelhança dos pernilongos Aedes aegypti, estão nos deixando loucos de medo, de raiva, de tristeza, de insegurança, de frustração, de revolta, de incapacidade de vencê-los, de decepção com as autoridades, de desespero de ficar doente e morrer, etc. Como também de outras emoções, nem sempre são admitidas como tais, a saber: do egoísmo, da crueldade, da violência, da vingança, da avareza, da negligência, incompetência e falta de escrúpulos para com os negócios públicos e pessoais, da alienação propositalmente ingênua, etc.
            Entretanto, podemos nos identificar com o herói da história - o flautista -, que à semelhança de Orfeu, que desceu aos infernos para resgatar sua amada Eurídice, com sua música faz adormecer ao monstruoso cão de três cabeças, Cérbero.
            O momento é de nos empenhar pela continuidade e melhoria das condições de vida, aprender a superar a todas as adversidades que aparecem em nosso caminho, inclusive o descaso das autoridades, sem esperar o reconhecimento de ninguém, se quisermos vencer mais esta luta pela nossa sobrevivência e de outras pessoas. Precisamos “amansar” as feras, aplacar os instintos perversos que nos invadem como enxames de pernilongos, em benefício de toda a cidade, isto é, da nossa consciência.
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535 – http://psijung.blogspot.com.br)

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