domingo, 1 de fevereiro de 2015

Auschwitz, nunca mais?

            Há 70 anos, no dia 27 de janeiro de 1945, o exército russo invadia o campo de extermínio denominado Auschwitz, ao sul da Polônia, onde mais de 1,3 milhão de judeus, 150 mil poloneses, 23 mil ciganos romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos e dezenas de milhares de pessoas de diversas nacionalidades morreram, se não nas câmaras de gás, morriam de fome, doenças infecciosas, trabalhos forçados, execuções individuais ou experiências médicas.
            Viktor Frankl (1905-1997) psicólogo austríaco, fundador da Logoterapia, vertente do existencialismo humanista, sofreu os horrores nazistas durante mais de dois anos nos campos de concentração de Theresienstadt, Kayfering e Terkheim, escavando túneis e construindo ferrovias. Esteve em Auschwitz, em 1944, onde perdeu sua mãe, esposa e um dos irmãos. Trazia tatuado em seu braço o número 119.104.
            Ele conta: “Em Auschwitz, dormi em beliches de três andares, e em cada andar (medindo mais ou menos 2x2x5m) dormiam nove pessoas, em cima de tábua pura; e para cobrir-se, havia dois cobertores para cada andar, isto é, para nove pessoas. Naturalmente só podíamos nos deitar de lado, apertados e forçados um contra o outro”.
            Em um de seus livros - Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração - narra que, durante o período que viveu nos campos, buscou responder a seguinte questão: “De que modo se refletia na cabeça do prisioneiro médio a vida cotidiana do campo de concentração?”
            Algumas das respostas a que chegou: “Todos sabiam o que significava Auschwitz: câmaras de gás, fornos crematórios e execuções em massa”. Com o passar dos dias, meses e anos, as pessoas experimentavam: a ilusão de, a qualquer momento, surgir alguém que pusesse fim ao sofrimento, seguida por uma curiosidade fria que as distanciava do seu mundo e, o humor negro, como: morrer na câmara de gás é poupar-se do suicídio. Não demorava muito, para que tudo isso se transformar em grande apatia: “A pessoa aos poucos vai morrendo interiormente [...] indiferente e já insensível, pode ficar observando (companheiros serem espancados) sem se perturbar. [...] Além disso, há o nojo. O nojo de toda a fealdade que o cerca, interior e exterior”.
            Entretanto, Frankl observou que: “À parte deste fenômeno mais ou menos geral, existem duas áreas de interesse. Em primeiro lugar a política (o que não é de surpreender) e, em segundo, a religião (o que não deixa de ser notável). [...] O interesse religioso dos prisioneiros, na medida em que surgia, era o mais ardente (com surpreendente vitalidade e profundidade) que se possa imaginar”.
            Mesmo depois de mais meio século, Auschwitz precisa significar algo para cada um de nós: que o mal que irrompe no mundo, eclode por toda parte no âmbito psíquico, não importando o grau cultural, econômico e espiritual; que não estamos imunes à repetição de tais atrocidades, ainda mais, que possuímos tantos traidores e psicopatas políticos, entre nós. Pois, como afirma C. G. Jung, referindo-se a este tipo de político: “Quem tudo promete nada cumpre e aquele que muito promete está na iminência de se valer de expedientes escusos para cumprir a promessa, abrindo as vias para uma catástrofe” (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 23).
            Lamentavelmente, ainda não podemos dizer: Auschwitz, nunca mais!
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535 – http://psijung.blogspot.com.br)

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