Há 70 anos, no dia 27 de janeiro de
1945, o exército russo invadia o campo de extermínio denominado Auschwitz, ao
sul da Polônia, onde mais de 1,3 milhão de judeus, 150 mil poloneses, 23 mil ciganos
romenos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos e dezenas de milhares de
pessoas de diversas nacionalidades morreram, se não nas câmaras de gás, morriam
de fome, doenças infecciosas, trabalhos forçados, execuções individuais ou
experiências médicas.
Viktor Frankl (1905-1997) psicólogo
austríaco, fundador da Logoterapia, vertente do existencialismo humanista,
sofreu os horrores nazistas durante mais de dois anos nos campos de
concentração de Theresienstadt, Kayfering e Terkheim, escavando túneis e
construindo ferrovias. Esteve em Auschwitz, em 1944, onde perdeu sua mãe,
esposa e um dos irmãos. Trazia tatuado em seu braço o número 119.104.
Ele conta: “Em Auschwitz, dormi em
beliches de três andares, e em cada andar (medindo mais ou menos 2x2x5m)
dormiam nove pessoas, em cima de tábua pura; e para cobrir-se, havia dois
cobertores para cada andar, isto é, para nove pessoas. Naturalmente só podíamos
nos deitar de lado, apertados e forçados um contra o outro”.
Em um de seus livros - Em busca de
sentido: um psicólogo no campo de concentração - narra que, durante o período
que viveu nos campos, buscou responder a seguinte questão: “De que modo se
refletia na cabeça do prisioneiro médio a vida cotidiana do campo de
concentração?”
Algumas das respostas a que chegou:
“Todos sabiam o que significava Auschwitz: câmaras de gás, fornos crematórios e
execuções em massa”. Com o passar dos dias, meses e anos, as pessoas
experimentavam: a ilusão de, a qualquer momento, surgir alguém que pusesse fim
ao sofrimento, seguida por uma curiosidade fria que as distanciava do seu mundo
e, o humor negro, como: morrer na câmara de gás é poupar-se do suicídio. Não
demorava muito, para que tudo isso se transformar em grande apatia: “A pessoa
aos poucos vai morrendo interiormente [...] indiferente e já insensível, pode
ficar observando (companheiros serem espancados) sem se perturbar. [...] Além
disso, há o nojo. O nojo de toda a fealdade que o cerca, interior e exterior”.
Entretanto, Frankl observou que: “À
parte deste fenômeno mais ou menos geral, existem duas áreas de interesse. Em
primeiro lugar a política (o que não é de surpreender) e, em segundo, a
religião (o que não deixa de ser notável). [...] O interesse religioso dos
prisioneiros, na medida em que surgia, era o mais ardente (com surpreendente
vitalidade e profundidade) que se possa imaginar”.
Mesmo depois de mais meio século,
Auschwitz precisa significar algo para cada um de nós: que o mal que irrompe no
mundo, eclode por toda parte no âmbito psíquico, não importando o grau
cultural, econômico e espiritual; que não estamos imunes à repetição de tais
atrocidades, ainda mais, que possuímos tantos traidores e psicopatas políticos,
entre nós. Pois, como afirma C. G. Jung, referindo-se a este tipo de político:
“Quem tudo promete nada cumpre e aquele que muito promete está na iminência de
se valer de expedientes escusos para cumprir a promessa, abrindo as vias para
uma catástrofe” (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1988, p.
23).
Lamentavelmente, ainda não podemos
dizer: Auschwitz, nunca mais!
(Sílvio
Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535
– http://psijung.blogspot.com.br)
Nenhum comentário:
Postar um comentário