domingo, 1 de março de 2015

Cuidado com o aedes politikos, o odioso vírus dos políticos

            O “flautista de Hamelin”, do conto dos irmãos Grimm, sugerido no artigo anterior como o nosso modelo de herói na luta contra a dengue, é para funcionar como um fator psicológico que nos mantém ligados ao mundo não contaminado pelo vírus da indiferença; ou seja, à medida que o vivenciamos, saberemos estabelecer os melhores critérios de como enfrentar tudo o que está nos deixando “loucos”, diante da multiplicidade de problemas que a situação descontrolada da dengue está provocando entre nós. Além dos problemas de saúde, que são óbvios, complicações de ordem social, política, econômica e psicológica surgem a todo o momento, aos “enxames” sobre nós.
            Não por acaso, algumas pessoas revelam-se com uma identidade não-humana, de inseto mesmo, daí advêm as expressões do tipo: “mosca morta”, “sangue de barata”, “vamos logo, seu lesma”, “fulano é um verme”, “vai ter com a formiga, ó preguiçoso”, “me vi em papos-de-aranha”, “nessas horas gostaria de ser como um mosquitinho para ver a cara dela”, “você é traça de biblioteca”, “sou um formigão, quando tem doce”, etc.
            Infelizmente, autoridades políticas estão tentando tirar algum proveito da situação. Não é demasiado concluir que não apenas “sugam o nosso sangue”, cobrando altas taxas e impostos sem a devida prestação dos serviços que atendam as nossas necessidades, como também “contaminam-nos” com o vírus da mentira, da negligência, do descaso, do oportunismo, do desânimo, da vergonha, da desilusão, da confusão, da farsa marqueteira, do cinismo, da manipulação, da canalhice, do interesse mesquinho, da hipocrisia, do sentir nada mas só aguardar o dia do pagamento com o dinheiro do povo, da frieza da burocracia, do orgulho de não ter sentimentos, do abuso do “jeitinho brasileiro”, da falta de vergonha na cara, de não levar o outro a sério, do resolver as coisas “nas coxas” e que no fim dá tudo certo, do egocentrismo, de que pode ser mau caráter pois isso dá dinheiro, do autoritarismo, do conservadorismo político, etc.
            Como acontece com os mosquitos Aedes Aegypti - aedes, do grego “odioso” -, a proliferação destes vírus suscita problemas que passam a funcionar de modo autônomo, atacando-nos por todos os lados, ameaçando nosso pretenso arbítrio e domínio da situação, sugerindo que nossas estratégias de defesa, principalmente, contra este tipo de político, são inúteis, deixando-nos ardentes de febre da desilusão e desânimo.
            Precisamos criar e implantar medidas que respondam aos movimentos que vêm do inconsciente que objetivam deixar-nos arrasados em nossas insuficiências individuais e coletivas caso fiquemos inoculados com os vírus acima citados, isto é, se assim permitirmos transformar-nos-emos em parasitas, como parecem querer nossos representantes, uma vez que em nossas memórias político-culturais somos um povo que se julga inferior aos demais. Neste caso, é preciso fazer soar a flauta da reflexão corajosa, que revê, sem medo nem vergonha, as opções tomadas nas últimas eleições.
            Não sobrevivemos sem a sociedade e a cultura, pois estamos em constante relação com elas. Nossos problemas pessoais estão enraizados na psique coletiva, mas não podemos nos deixar vencer pela incompetência, corrupção, passividade, inferioridade cultural e alienação que só fazem aumentar tantos escândalos, uma vez que “a psicopatologia de massa tem suas raízes na psicopatologia individual”, conforme Jung (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 39).

            Você já tocou sua flauta hoje?

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