O “flautista de Hamelin”, do conto
dos irmãos Grimm, sugerido no artigo anterior como o nosso modelo de herói na
luta contra a dengue, é para funcionar como um fator psicológico que nos mantém
ligados ao mundo não contaminado pelo vírus da indiferença; ou seja, à medida
que o vivenciamos, saberemos estabelecer os melhores critérios de como
enfrentar tudo o que está nos deixando “loucos”, diante da multiplicidade de
problemas que a situação descontrolada da dengue está provocando entre nós.
Além dos problemas de saúde, que são óbvios, complicações de ordem social,
política, econômica e psicológica surgem a todo o momento, aos “enxames” sobre
nós.
Não por acaso, algumas pessoas
revelam-se com uma identidade não-humana, de inseto mesmo, daí advêm as
expressões do tipo: “mosca morta”, “sangue de barata”, “vamos logo, seu lesma”,
“fulano é um verme”, “vai ter com a formiga, ó preguiçoso”, “me vi em papos-de-aranha”,
“nessas horas gostaria de ser como um mosquitinho para ver a cara dela”, “você
é traça de biblioteca”, “sou um formigão, quando tem doce”, etc.
Infelizmente,
autoridades políticas estão tentando tirar algum proveito da situação. Não é
demasiado concluir que não apenas “sugam o nosso sangue”, cobrando altas taxas
e impostos sem a devida prestação dos serviços que atendam as nossas
necessidades, como também “contaminam-nos” com o vírus da mentira, da
negligência, do descaso, do oportunismo, do desânimo, da vergonha, da
desilusão, da confusão, da farsa marqueteira, do cinismo, da manipulação, da
canalhice, do interesse mesquinho, da hipocrisia, do sentir nada mas só
aguardar o dia do pagamento com o dinheiro do povo, da frieza da burocracia, do
orgulho de não ter sentimentos, do abuso do “jeitinho brasileiro”, da falta de
vergonha na cara, de não levar o outro a sério, do resolver as coisas “nas
coxas” e que no fim dá tudo certo, do egocentrismo, de que pode ser mau caráter
pois isso dá dinheiro, do autoritarismo, do conservadorismo político, etc.
Como acontece com os
mosquitos Aedes Aegypti - aedes, do grego “odioso” -, a proliferação destes
vírus suscita problemas que passam a funcionar de modo autônomo, atacando-nos
por todos os lados, ameaçando nosso pretenso arbítrio e domínio da situação,
sugerindo que nossas estratégias de defesa, principalmente, contra este tipo de
político, são inúteis, deixando-nos ardentes de febre da desilusão e desânimo.
Precisamos criar e implantar
medidas que respondam aos movimentos que vêm do inconsciente que objetivam deixar-nos
arrasados em nossas insuficiências individuais e coletivas caso fiquemos
inoculados com os vírus acima citados, isto é, se assim permitirmos transformar-nos-emos
em parasitas, como parecem querer nossos representantes, uma vez que em nossas
memórias político-culturais somos um povo que se julga inferior aos demais. Neste
caso, é preciso fazer soar a flauta da reflexão corajosa, que revê, sem medo
nem vergonha, as opções tomadas nas últimas eleições.
Não sobrevivemos sem a
sociedade e a cultura, pois estamos em constante relação com elas. Nossos
problemas pessoais estão enraizados na psique coletiva, mas não podemos nos
deixar vencer pela incompetência, corrupção, passividade, inferioridade
cultural e alienação que só fazem aumentar tantos escândalos, uma vez que “a
psicopatologia de massa tem suas raízes na psicopatologia individual”, conforme
Jung (Aspectos do drama contemporâneo. Petrópolis: Vozes, 1988, p. 39).
Você já tocou sua
flauta hoje?
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