Esta cidade sou eu
Nossas cidades falam de nós e
para nós. Quer dizer, a vida urbana revela aquilo que somos e nos apresenta a
nós mesmos, sem escamotear a nada. Assim como o nosso corpo em gestos e gostos
ressaltam nossas características pessoais, nossas cidades apresentam as
questões humanas, a visão de mundo do homem. Se você não olha para a cidade,
você não se reconhece nela. E, olhar para a cidade significa enxergar-se nela.
Como a música: “A cor dessa cidade sou eu, o canto dessa cidade é meu”, de
Daniela Mercury (O canto da cidade).
Nossas ruas e avenidas, vilas
e bairros, praças e construções são testemunhas de nossos desejos, desavenças,
medos, inflações, separações, alegrias, fantasias, mitos, rituais, energias,
iniciativas, loucuras, dilemas, dramas, sonhos, dissociações, frustrações,
limites, amizades, paradoxos, impulsos e mortes.
O psíquico misterioso está
plasmado no concreto visível. A dimensão subjetiva, nossas sensibilidades
participam ativamente no processo que estabelecemos na vida urbana. O
inconsciente integra a vida consciente que levamos na cidade. “Tropeçamos” em
nós mesmos nos buracos das vias públicas, nos edifícios, nas construções e
viadutos.
“O
homem está na cidade/ como uma coisa está em outra/ e a cidade está no homem/
que está em outra cidade”, conforme o poeta Ferreira Gullar (1930-), em seu
“Poema Sujo. Velocidades”. Ou, como afirma o psicólogo James Hillman
(1926-2011): “Não apenas a minha patologia se projeta sobre o mundo; o mundo
está me inundando com o seu sofrimento que não se alivia” (Cidade e alma. São
Paulo: Studio Nobel, 1993, p. 13).
Isto desafia nossa
criatividade. Quer dizer, precisamos encontrar outros caminhos e outras
perspectivas acerca de nós mesmos. Para isso temos de nos aproximar uns dos
outros, respeitar as nossas diferenças, re-significar valores pessoais,
experimentar ideias diferentes, aprender a interpretar a linguagem da alma,
compreender a fala da “anima mundi”, isto é, sintonizar-se aos pensamentos que
movimentam o coletivo que visam o bem de todos e abrir mão de interesses
particulares.
“Cidades instigam negócios
criativos quando reúnem pessoas dinâmicas, inspiram comportamentos inovadores,
atraem talentos e combinam capital e educação”, segundo Richard Florida
(Revista Época. São Paulo: Edição 873, 2015, p. 72).
Milhões de pessoas em várias
cidades do mundo, inclusive no Brasil, passam por esta experiência. Muito mais
de saberem aproveitar as oportunidades, é preciso valer-se de fatores psíquicos
que todas as cidades têm a sua disposição, aspectos inconscientes se
conscientizados, os habitantes desenvolvem os seus potenciais humanos.
Só assim para descobrirmos um
tesouro de ideias e de forças criativas, percebermo-nos solidários com toda a
humanidade, tal como ela sempre foi e sempre será, segundo o pensamento da
psicologia analítica de C. G. Jung (A prática da psicoterapia. Petrópolis:
Vozes, 1991, p. 33).
(Sílvio
Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535 –
http://psijung.blogspot.com.br)
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