A
sociedade brasileira sente a falta de lideranças. O vazio é sentido em todos os
setores. Há muito tempo não precisamos levantar algum monumento em praça
pública em homenagem a alguém. Ninguém nos inspira a valores coletivos. Refiro-me
a alguém que movido pela sua vida pessoal, esteja identificado com a luta do
nosso povo e, se oferece como um coração, uma alma e uma mente da nação, que
entenda e fale a linguagem do coração, da alma e da mente brasileira.
Refiro-me ao herói como aquele
que conversa, defende, guarda, cria, organiza, expande e preserva valores da
consciência e da cultura, vela sobre, alguém que nasceu para servir. “O herói é
o que vence o dragão [...] (o) ato negativo e desfavorável, não um nascimento
mas um devorar, não um bem construtivo mas repressão mesquinha e destruição”,
conforme C. G. Jung (Símbolos da transformação. Petrópolis: Vozes, 1989, p.
363). O atual estado mental no País aponta-nos aos nossos “dragões”: violência,
desorientação, intranquilidade, derrotismo, intolerância, ódio, xenofobismo,
culto aos heróis do passado ou anti-heróis, corporativismo, egocentrismo,
autopreservação, rompantes de independência do coletivo com terríveis
consequências aos limites morais.
“Traumas repetitivos sofridos
por um grupo resultam na criação de complexos culturais que costumam provocar
eventos traumáticos. Os complexos culturais, assim como os individuais, tendem
a ser repetitivos, autônomos e, quando ativados, o ego do grupo identifica-se
com uma parte inconsciente do complexo, enquanto a outra é projetada em outro
grupo, o que acaba por ocasionar conflitos”, afirma Paula Pinheiro V. Guimarães,
doutoranda em Psicologia Clínica, da PUC/SP (Revista Hermes. Vol. 17. São
Paulo, 2012, p. 37).
Parece que perdemos a
capacidade de projetar o nosso arquétipo do herói por um fortíssimo
desvinculamento da vida social, coletiva. O vínculo do indivíduo com os
movimentos populares precisa fortalecer-se. Através dos movimentos de massa,
cada indivíduo pode pensar, agir e buscar uma realidade melhor para si e para
os outros. Os movimentos populares podem suscitar símbolos que, se assimilados,
podem levar indivíduos apáticos a se tornarem protagonistas de transformações
que beneficiariam a todos do grupo, e aos que tem uma individualidade
subdesenvolvida, ou aqueles que têm ambições particularmente não mais do que
coletivas, a descobrirem sua capacidade evolutiva individual.
Na opinião de Jung: “Há movimentos políticos
que pretendem, e até com certa razão, ser psicoterapia em escala maior [...] os
movimentos populares, sejam eles grandes ou pequenos, podem ter efeito curativo
sobre o indivíduo” (A prática da psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 3).
Se a experiência coletiva
impedir o livre arbítrio individual minimiza-se a independência mental e moral
do indivíduo. “A tendência do indivíduo no grupo é concordar o máximo possível
com a opinião geral ou, então, impor sua opinião ao grupo. A influência
niveladora do grupo sobre o indivíduo é compensada pelo fato de que um deles se
identifica com o espírito do grupo e se torna líder. Por isso haverá no grupo
sempre conflitos de prestígio e poder que se baseiam no egoísmo exacerbado da
pessoa grupal”, o mesmo Jung (Cartas. Vol. II. Petrópolis: Vozes, 2002, p.
387).
(Sílvio
Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535
– http://psijung.blogspot.com.br)
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