domingo, 22 de março de 2015

Onde está o herói?

            A sociedade brasileira sente a falta de lideranças. O vazio é sentido em todos os setores. Há muito tempo não precisamos levantar algum monumento em praça pública em homenagem a alguém. Ninguém nos inspira a valores coletivos. Refiro-me a alguém que movido pela sua vida pessoal, esteja identificado com a luta do nosso povo e, se oferece como um coração, uma alma e uma mente da nação, que entenda e fale a linguagem do coração, da alma e da mente brasileira.
Refiro-me ao herói como aquele que conversa, defende, guarda, cria, organiza, expande e preserva valores da consciência e da cultura, vela sobre, alguém que nasceu para servir. “O herói é o que vence o dragão [...] (o) ato negativo e desfavorável, não um nascimento mas um devorar, não um bem construtivo mas repressão mesquinha e destruição”, conforme C. G. Jung (Símbolos da transformação. Petrópolis: Vozes, 1989, p. 363). O atual estado mental no País aponta-nos aos nossos “dragões”: violência, desorientação, intranquilidade, derrotismo, intolerância, ódio, xenofobismo, culto aos heróis do passado ou anti-heróis, corporativismo, egocentrismo, autopreservação, rompantes de independência do coletivo com terríveis consequências aos limites morais.
“Traumas repetitivos sofridos por um grupo resultam na criação de complexos culturais que costumam provocar eventos traumáticos. Os complexos culturais, assim como os individuais, tendem a ser repetitivos, autônomos e, quando ativados, o ego do grupo identifica-se com uma parte inconsciente do complexo, enquanto a outra é projetada em outro grupo, o que acaba por ocasionar conflitos”, afirma Paula Pinheiro V. Guimarães, doutoranda em Psicologia Clínica, da PUC/SP (Revista Hermes. Vol. 17. São Paulo, 2012, p. 37).
Parece que perdemos a capacidade de projetar o nosso arquétipo do herói por um fortíssimo desvinculamento da vida social, coletiva. O vínculo do indivíduo com os movimentos populares precisa fortalecer-se. Através dos movimentos de massa, cada indivíduo pode pensar, agir e buscar uma realidade melhor para si e para os outros. Os movimentos populares podem suscitar símbolos que, se assimilados, podem levar indivíduos apáticos a se tornarem protagonistas de transformações que beneficiariam a todos do grupo, e aos que tem uma individualidade subdesenvolvida, ou aqueles que têm ambições particularmente não mais do que coletivas, a descobrirem sua capacidade evolutiva individual.
 Na opinião de Jung: “Há movimentos políticos que pretendem, e até com certa razão, ser psicoterapia em escala maior [...] os movimentos populares, sejam eles grandes ou pequenos, podem ter efeito curativo sobre o indivíduo” (A prática da psicoterapia. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 3).
Se a experiência coletiva impedir o livre arbítrio individual minimiza-se a independência mental e moral do indivíduo. “A tendência do indivíduo no grupo é concordar o máximo possível com a opinião geral ou, então, impor sua opinião ao grupo. A influência niveladora do grupo sobre o indivíduo é compensada pelo fato de que um deles se identifica com o espírito do grupo e se torna líder. Por isso haverá no grupo sempre conflitos de prestígio e poder que se baseiam no egoísmo exacerbado da pessoa grupal”, o mesmo Jung (Cartas. Vol. II. Petrópolis: Vozes, 2002, p. 387).
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 998051090 / 981378535 – http://psijung.blogspot.com.br)

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