“Nossos medos alteram-se com
idade, gênero, classe sócio-econômica, nível de desenvolvimento cognitivo e
outras variáveis de natureza individual ou social”, conforme Antonio Roazzi;
Fabiana C. B. Federicci; Maria do Rosário Carvalho (A questão do consenso nas
representações sociais: um estudo do medo entre adultos. Psic. Teor. e Pesq. V. 18 nº 2.
Brasília: 2002).
Quanto menor for a nossa
capacidade de avaliar a vida, menor será o medo. Quanto mais apurada for a nossa
noção de vida, maior será a sensação de medo. Por isso podemos dizer que há
vários tipos de medo. A criança sofre medos que os idosos não sofrem; os ricos
temem por coisas que os pobres não temem; o intelectual sente um medo diferente
do símplice; as mulheres sentem um tipo de medo e os homens, outro.
O medo é diferente de pessoa
para pessoa, e não importa se a situação de perigo é imaginária ou real. Nem
sempre somos suficientemente capazes de admitir ou de verbalizar o quanto somos
medrosos. A maioria de nós procura diminuir as experiências desagradáveis na
tentativa de “despistar” o medo prolongando aquelas que julgam positivas com o
propósito de atenuar o medo.
Segundo os autores, acima
citados, o medo é uma emoção “governada” pelo grupo social a que pertenço, isto
é, dependendo do valor que atribuo às opiniões dos outros, o meu medo será mais
forte ou mais fraco, porque procuro de alguma forma antecipar a aprovação ou a
desaprovação alheias sobre o que pode acontecer comigo. Por isso é comum as
pessoas se aproximarem daquelas que lhes dão sensação de segurança quanto aos
seus próprios valores e se afastam daquelas que podem censurar de alguma
maneira seu estilo de vida.
O medo também pode ser
compreendido como uma emoção íntima, a decepção. É o medo que “se dirige ao
nosso ser íntimo”, conforme Marco Aurélio Werle, professor da USP, em “A
angústia, o nada e a morte em Heidegger” (Trans/Form/Ação.
V. 26, n.1. Marília: 2003).
O medo surge quando nos vemos
desafiados a desenvolver novas habilidades, sem as quais sabemos que não temos
como sobreviver às dificuldades que enfrentamos sozinhos. Nesta situação temos:
“ou ficamos tomados pelo medo e por ele subjugados, ou lutaremos corajosamente
para vencer esse medo” (Mônica Giacomini Guedes da Silva. Doença terminal,
perspectiva de morte: um trabalho desafiador ao profissional da saúde que luta
contra ela... Rev. SBPH. V.10 n.2. Rio de Janeiro: 2007).
E a religião, tem
alguma participação no sentido de ao menos atenuar o medo? Para Rubem Alves
(1933-): “A religião se nos apresenta como um discurso, uma rede de símbolos.
Com esses símbolos os homens discriminam objetos, tempos e espaços,
construindo, com o seu auxílio, uma abóbada sagrada com que recobrem o seu
mundo. Talvez porque sem ela o mundo seja por demais frio e escuro. Com seus
símbolos sagrados o homem exorciza o medo e constrói diques contra o caos” (O
que é religião. São Paulo: Abril Cultural e Brasiliense, 1984, p. 24).
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