segunda-feira, 11 de maio de 2015

Nise da Silveira: exemplo na Luta Antimanicomial

            No momento em que o País se volta a considerar a luta antimanicomial, durante a semana que se inicia, deve-se ressaltar que a alagoana Nise da Silveira (1905-1999), foi a primeira psiquiatra brasileira a dar um tratamento diferenciado aos         que sofriam a “invasão do mundo interno sobre o mundo externo”, como ela chamava.
            Em sua opinião: “O paciente, não entende a linguagem do mundo externo. Eu parto sempre do que o doente diz, escuta ou faz. Nem sempre considero aquilo que os livros falam. Nem mesmo os de Jung. No entanto, há uma grande coincidência no que o doente faz, sente e fala e o que Jung ensina. Por exemplo: Fernando Diniz (paciente que recebeu tratamentos tradicionais no hospital psiquiátrico, que segundo a Dra. Nise, “massacraram cada vez mais sua autoimagem e são implacavelmente hostis aos movimentos de defesa das forças autocurativas que tentam a reconstrução da psique dissociada), em certa ocasião falou: “Mudei para o mundo das imagens”. Fernando era o único desses nossos pacientes que tinha uma cultura maior. Estava fazendo o colegial quando adoeceu. E tinha um racional desenvolvido; entretanto, ele se espantou com suas imagens devido a problemas emocionais. O inconsciente invadiu esse mundo racional onde ele vivia. Então ele diz espantado: “Mudei para o mundo das imagens. As imagens tomam a alma da pessoa”. Se o próprio doente diz que está tomado pelas imagens, porque você vai continuar buscar entendê-lo exclusivamente através de uma linguagem racional? Ele não vai te entender. Se importa ele em responder: que horas são? que dia é hoje? E outras perguntas semelhantes do mundo externo valorizadas pela psiquiatria tradicional. No prontuário de Fernando Diniz, muitas vezes encontrei escrito: desorientado no tempo e espaço. Entretanto Fernando Diniz lia livros de física atômica. Muitas vezes ia a livrarias acompanhado de um estagiário e escolhia livros”.
De sua produção bibliográfica, destacamos: Jung: vida e obra (1968); Imagens do Inconsciente (1981); O mundo das imagens (1992); Gatos: a emoção de lidar (1998). E, como pesquisadora, desenvolveu atividades com os pacientes envolvendo cães e gatos no tratamento: “No Hospital, introduzi os animais como ajuda para os doentes. Como co-terapeutas. Um analista americano, de quem eu tenho um livro costumava trabalhar com um cão no consultório. Como, aliás, Freud trabalhava com um cão no consultório; Jung trabalhava com um cão no consultório. Marie Louise Von Franz, com quem eu fiz análise, trabalhava com um cão no consultório”.
            Sua decisão pela luta antimanicomial foi tomada mediante a seguinte experiência: “Um paciente me mostrou que eu estava no caminho certo, quando certa vez me ofereceu um coração em madeira e no centro do coração um livro aberto. Quando me ofereceu isso, me disse: “um livro é muito importante, a ciência é muito importante, mas se se desprender do coração não vale nada”. Tudo que eu sei de psiquiatria aprendi com eles”.
            Na luta antimanicomial, Nise da Silveira não deixa dúvidas: “Estou de acordo de que estes velhos manicômios que se parecem prisões sejam implodidos, é um movimento que, a meu ver, não se ocupa do mundo interno do paciente”.

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