Psique,
portadora de saúde e vida: a bandeira da Luta Antimanicomial
Os transtornos
mentais são carregados de uma grandiosa riqueza da vida interior, apesar de
parecerem como grotescas correntes que privam da liberdade.
A contribuição
da psicologia analítica, formulada por Carl Gustav Jung, na compreensão desse
fenômeno é que as desordens psíquicas, como a esquizofrenia, por exemplo, cuja
comunicação com o paciente por meio da palavra, às vezes se torna impossível, pode
ser reconstituída através de imagens. “C. G. Jung dá máximo valor à função
criadora de imagens. Na sua psicoterapia, desenho e pintura são considerados
fatores que podem contribuir para o processo de autoevolução do ser” (Nise da
Silveira. Senhora das imagens: escritos dispersos de Nise da Silveira. Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008, p. 120).
Daí a
importância de envolver os pacientes em atividades nos ateliês de pintura e
escultura. A expressão plástica revela os códigos das significações psicológicas
do sofrimento mental. Embotamento afetivo, apagamento da afetividade, pobreza
de ideação e demência são termos que mais perturbam e atrapalham um tratamento
que se quer ser eficiente. As imagens são portadoras de uma linguagem
inconsciente simbólica que desafia nossa capacidade de lidar com elas e trazer
algum alívio.
Pioneira no
tratamento psiquiátrico através das imagens plásticas, no Centro Psiquiátrico
Pedro II, no Rio de Janeiro, a psiquiatra alagoana Nise da Silveira (1905-1999),
afirma: “A pintura nos informará sobre as alterações da percepção. Revelará se
o doente perdeu ou não a capacidade de construir Gestalten, se vê as coisas
desligadas de seus contextos pragmáticos, misturadas, justapostas, superpostas,
num verdadeiro caos. Informará sobre a estruturação do espaço, sobre a maneira
como ele apreende o mundo. Se o mundo que vivencia é rígido, estático,
ameaçador, instável, sombrio ou colorido. Se predomina a tendência à abstração,
como fuga a um mundo hostil, ou se se manifestam tendências à empatia com as
coisas e seres do mundo real. A pintura nos permitirá acesso a imagens oriundas
das profundezas do inconsciente” (Nise da Silveira. Referência citada acima, p.
111).
Conforme
C. G. Jung: “Como pessoas normais inteiramente inseridas na realidade, não
conseguimos ver a riqueza desse aspecto velado da psique. Percebemos somente a
destruição. Infelizmente, na maior parte das vezes, não conseguimos nenhuma
informação sobre o que se passa no lado obscuro da psique, uma vez que ruíram
todas as pontes de ligação. [...] Mesmo as coisas mais absurdas são símbolos do
pensamento, que são não só humanidades que moram no íntimo de toda criatura
humana. Nos dementes mentais, não estamos diante de nada de novo e
desconhecido, mas sim do fundamento de nosso próprio ser, da origem dos
problemas que enfrentamos no dia a dia” (Psicogênese das doenças mentais.
Petrópolis: Vozes, 1986, p. 161).
Através das
pinturas e/ou esculturas os pacientes expõem o “outro lado” da psique. Não há
sintoma que não possa ser compreendido psicologicamente. Em todos os sintomas,
por mais caótico, absurdo, incongruente, estereotipado sempre vamos encontrar
algum sentido psicológico.
A Luta
Antimanicomial defende a bandeira da psique, portadora de saúde e vida.
(Sílvio
Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 99805.1090 / 98137.8535
– http://psijung.blogspot.com.br)
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