domingo, 17 de maio de 2015

Psique, portadora de saúde e vida: a bandeira da Luta Antimanicomial
Os transtornos mentais são carregados de uma grandiosa riqueza da vida interior, apesar de parecerem como grotescas correntes que privam da liberdade.
A contribuição da psicologia analítica, formulada por Carl Gustav Jung, na compreensão desse fenômeno é que as desordens psíquicas, como a esquizofrenia, por exemplo, cuja comunicação com o paciente por meio da palavra, às vezes se torna impossível, pode ser reconstituída através de imagens. “C. G. Jung dá máximo valor à função criadora de imagens. Na sua psicoterapia, desenho e pintura são considerados fatores que podem contribuir para o processo de autoevolução do ser” (Nise da Silveira. Senhora das imagens: escritos dispersos de Nise da Silveira. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008, p. 120).
Daí a importância de envolver os pacientes em atividades nos ateliês de pintura e escultura. A expressão plástica revela os códigos das significações psicológicas do sofrimento mental. Embotamento afetivo, apagamento da afetividade, pobreza de ideação e demência são termos que mais perturbam e atrapalham um tratamento que se quer ser eficiente. As imagens são portadoras de uma linguagem inconsciente simbólica que desafia nossa capacidade de lidar com elas e trazer algum alívio.
Pioneira no tratamento psiquiátrico através das imagens plásticas, no Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro, a psiquiatra alagoana Nise da Silveira (1905-1999), afirma: “A pintura nos informará sobre as alterações da percepção. Revelará se o doente perdeu ou não a capacidade de construir Gestalten, se vê as coisas desligadas de seus contextos pragmáticos, misturadas, justapostas, superpostas, num verdadeiro caos. Informará sobre a estruturação do espaço, sobre a maneira como ele apreende o mundo. Se o mundo que vivencia é rígido, estático, ameaçador, instável, sombrio ou colorido. Se predomina a tendência à abstração, como fuga a um mundo hostil, ou se se manifestam tendências à empatia com as coisas e seres do mundo real. A pintura nos permitirá acesso a imagens oriundas das profundezas do inconsciente” (Nise da Silveira. Referência citada acima, p. 111).
            Conforme C. G. Jung: “Como pessoas normais inteiramente inseridas na realidade, não conseguimos ver a riqueza desse aspecto velado da psique. Percebemos somente a destruição. Infelizmente, na maior parte das vezes, não conseguimos nenhuma informação sobre o que se passa no lado obscuro da psique, uma vez que ruíram todas as pontes de ligação. [...] Mesmo as coisas mais absurdas são símbolos do pensamento, que são não só humanidades que moram no íntimo de toda criatura humana. Nos dementes mentais, não estamos diante de nada de novo e desconhecido, mas sim do fundamento de nosso próprio ser, da origem dos problemas que enfrentamos no dia a dia” (Psicogênese das doenças mentais. Petrópolis: Vozes, 1986, p. 161).
Através das pinturas e/ou esculturas os pacientes expõem o “outro lado” da psique. Não há sintoma que não possa ser compreendido psicologicamente. Em todos os sintomas, por mais caótico, absurdo, incongruente, estereotipado sempre vamos encontrar algum sentido psicológico.
A Luta Antimanicomial defende a bandeira da psique, portadora de saúde e vida.
(Sílvio Lopes Peres – Psicólogo Clínico – CRP 06/109971 – Fones: 99805.1090 / 98137.8535 – http://psijung.blogspot.com.br)

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