terça-feira, 12 de julho de 2011

Esperança (1)

             Esperança é uma emoção como felicidade, ansiedade, amor, depressão, tédio, ódio, dúvida. Para alguns, esperar é almejar. Para estes, parece que simplesmente desejar muito os faz se sentirem esperançosos. Contudo, desejar uma nova residência, ou um carro melhor, pode ser apenas cobiça. Cobiçar não é ser esperançoso, como afirma Erich Fromm (1900-1980), em A revolução da esperança: por uma tecnologia humanizada (Zahar: Rio de Janeiro, 1984).
            Para Fromm, a esperança não é uma atitude passiva. Isto é resignação, não esperança. O resignado acredita que se deve respeitar o tempo – “ainda não chegou a minha vez” – opta pela inércia porque confia no futuro – “Amanhã será diferente. Nada posso fazer”.
            Outros confundem esperança com otimismo – “tudo vai dar certo”; “tem de pensar positivo” – com total desprezo pela realidade, e total apego ao amor-próprio. Este otimismo equivocado é a tentativa de criar, à força, uma realidade que não existe, uma possibilidade que não pode ocorrer. Não seria esta a causa do desespero de alguns que aguardam que sua fantasia se torne realidade?
            “Ter esperança significa estar pronto a todo momento para aquilo que ainda não nasceu, e todavia não se desesperar se não ocorrer nascimento algum durante nossa existência. Não faz sentido esperar pelo que já existe ou pelo que não pode ser. Aqueles cuja esperança é fraca, decidem pelo conforto ou pela violência; aqueles cuja esperança é forte, veem e apreciam todos os sinais da nova vida e estão prontos a todo instante para ajudar no nascimento daquilo que está pronto para nascer” (Fromm, p. 27).
            Fromm nos chama a atenção para a prontidão. Estar pronto não significa estar ocupado com alguma coisa, mas estar inclinado na direção daquilo que se espera, assim como o doente, se inclina na direção da saúde, pelo tratamento a que se submete; assim como a árvore busca a luz do sol para crescer.
            O esperançoso não procrastina atitudes que podem tornar sua vida melhor, mas está voltado na direção daquilo que espera que possa acontecer. O esperançoso é firme quanto ao que espera, seu sim é sim, seu não é não. Isto não significa ser teimoso. Na verdade, teimosia é a fraqueza daqueles que não se importam com o viver, que não amam a vida. O teimoso não abre mão de uma opinião, principalmente se esta vem de uma instituição ou de uma pessoa admirada, e que atende a sua cobiça. Antes, o esperançoso revê suas ideias o tempo todo, e busca aperfeiçoá-las porque desconfia dos seus desejos egoístas, e enfrenta a realidade sem fantasias. E isto gera mais firmeza e alegria interior. O esperançoso é discreto, e nisto está a sua força. O teimoso é cobiçoso, preguiçoso e egoísta, pois acredita em determinismos.
            O esperançoso é como o profeta que anuncia a liberdade a escravos, a paz aos que se odeiam, alternativas aos alienados, a vida aos mortos. Este exercício só é bem sucedido se alguém der ouvidos, do contrário, continuarão sofrendo. Mas o profeta é firme até mesmo quando vê sua esperança se frustrar. A esperança pode ser destruída. Mas, sobre isto refletiremos na próxima semana.

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