quarta-feira, 20 de julho de 2011

Esperança (2)


           A esperança pode ser destruída. Em seu lugar fica a decepção, a frustração, o desencanto, o desapontamento.
Apesar de nenhum de nós estarmos imune a esta experiência, a reação é muito diferente. Há aqueles que rapidamente se adaptam à situação para não se sentirem tristes, mas sem sentirem que “reduzem suas exigências ao que podem obter e nem mesmo sonham com o que parece estar fora do seu alcance” (Erich Fromm. A revolução da esperança: por uma tecnologia humanizada Zahar: Rio de Janeiro, 1984, p. 38). Trata-se de uma adaptação à maioria por temer a individualidade.
Outras pessoas se sentem tão magoadas que escolhem magoar para não serem magoadas. Não só os delinquentes estão nesta lista. Podemos incluir aqueles que se queixam porque não encontram amigos, por isso não oferecem amizade a ninguém; porque não se sentem amados, se sentem incapazes de amar alguém. Como diz Fromm: “Tendo perdido a compaixão e a empatia, elas não tocam em alguém – nem podem ser tocadas. Sentem orgulho da sua intocabilidade e prazer em serem capazes de magoar”.
Quanto menor o nível de capacidade para suportar a frustração, mais cresce o sentimento por violência e destruição. Quem não sente esperança odeia a vida. Odiar a vida é o motivo principal para a sua destruição. A vingança e a raiva compõem o quadro social do desencanto. Sentimos raiva toda vez que julgamos que os nossos objetivos de vida não podem ser frustrados, porque os consideramos melhores do que os dos outros. Para S. Berthoz, há pessoas que só são capazes de expressar sua cólera irrefreável e explosivamente, por se sentirem “vazios de ternura” (Os segredos das emoções. São Paulo: Duetto. Revista Mente e Cérebro: Nº 143, 2004, p. 55).
Entre as nações, o desencanto exerce a mesma influência. A humanidade precisa cultivar a esperança para evitar que os homens desapontados vão à guerra, julguem contra a consciência, não defendam os mais pobres. Não podemos fechar os olhos para os sinais da desesperança em nosso mundo. São cada vez mais notórios os sinais do desaparecimento da esperança entre nós: atentados contra civis, fome e miséria, desmatamento e poluição, desemprego e investimento em áreas não-prioritárias, etc.
Fromm aponta para a necessidade de “enfrentar a nossa desesperança” (p. 41). Para isso precisamos: admitir que promessas vazias não nos motivam, senão ao comodismo e à alienação, que interessam aos governantes e aos ricos; examinar diligentemente possibilidades reais de mudar nossa vida social, econômica e cultural. “Se não existe essa possibilidade real, então a esperança é realmente pura insensatez. Mas se existe uma possibilidade real, pode haver esperança, baseada no exame de novas alternativas e opções, e em ações concertadas para ocasionar a realização dessas novas alternativas” (Fromm, p. 41).
Sob tantas tensões estressantes como: trabalho, cuidado com os filhos, pagamento de impostos, crediários e financiamentos, cuidados com a própria saúde, ou de algum familiar enfermo, horários que precisam ser cumpridos, administrar as más notícias, participar de reuniões e/ou festas, entre tantas coisas, não podemos nos esquecer que ter esperança é uma capacidade que vem da tão marginalizada alma. Para não ser vencido pela frustração e viver com esperança, é preciso se voltar à alma. Assunto para a próxima semana.

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