quarta-feira, 8 de junho de 2011

Síndromes e doenças que transcendem a evolução humana: a Terapia Cognitivo Comportamental aplicada à dependência de álcool e tabaco


Síndromes e doenças que transcendem a evolução humana:
a Terapia Cognitivo Comportamental aplicada à dependência de álcool e tabaco


PERES, Sílvio Lopes
Teólogo, Pedagogo, Especialista em Docência do Ensino Superior, Mestre em Ciências da Religião e Discente do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências da Saúde–FASU/ACEG–GARÇA/SP

MAIA, Marianne Pelegi
Discente do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências da Saúde–FASU/ACEG–GARÇA/SP

PAIXÃO, Luciana Aparecida da
Discente do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências da Saúde–FASU/ACEG–GARÇA/SP

GAZZOLA, Rangel Antonio
Especialista em Psicologia da Saúde, Psicólogo Perito Avaliador, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem e Docente do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências da Saúde – FASU de Garça/SP



RESUMO

O desejo de consumir álcool e tabaco é um dos fatores que mais impede dos usuários abandonarem o hábito. A Terapia Cognitiva-Comportamental se apresenta como opção no tratamento destes indivíduos, porque objetiva alterar pensamentos e comportamentos disfuncionais, cujas técnicas são aqui apresentadas, apresentadas pelo terapeuta com paciência e empatia aos pacientes, os quais devem assumir a responsabilidade final pelo sucesso do tratamento.
Palavras-chave: Terapia Cognitivo Comportamental, Dependência Química, Álcool, Tabaco.


ABSTRACT

The desire to consume alcohol and tobacco is one factor that prevents most of the users quit using tobacco. Cognitive-Behavioral Therapy is presented as an option in the treatment of these individuals, as intended to change dysfunctional thoughts and behaviors, whose techniques are presented, presented by the therapist with patience and empathy for patients, who must assume ultimate responsibility for successful treatment.
Keywords: Cognitive Behavioral Therapy, Chemical Dependence, Alcohol, Tobacco.


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Introdução
Álcool e tabaco são considerados como drogas lícitas apenas pelo fato de estarem integradas ao contexto sócio-cultural do País, o que permite seu fácil acesso por crianças e adolescentes. O fácil acesso a tais substâncias, pode e viabiliza uma porta de entrada do jovem brasileiro no obscuro mundo da dependência química e hipoteticamente, medeia uma possível progressão para o uso de outras drogas.
A Organização Mundial da Saúde, através do seu Código Internacional de Doenças (CID-10), classifica síndrome de dependência (F1x.2) como:
Conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas conseqüências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência física. (CÓDIGO INTERNACIONAL DE DOENÇAS DA OMS, 1993, p.74)

Para Pinho e Oliva (2007), os fumantes fisiologicamente dependentes, em muito pouco tempo percebem os primeiros sintomas quando estão em abstinência, em geral dois ou três dias são suficientes, com duração pelos menos de seis meses.
Os principais sintomas são: irritabilidade, baixa concentração da atenção, náusea, tontura, sonolência, dores de cabeça, constipação nasal e tremores musculares. Quanto à privação do álcool, além dos mesmos sintomas que passam os fumantes, o indivíduo percebe uma forte sudorese, podendo chegar à morte dependendo do nível de dependência (HOLMES, 2001).
Laranjeira (2000) afirma que 70% dos fumantes desejam parar de fumar, contudo, apenas 5% conseguem fazê-lo por si mesmos, devido à nicotina, que causa a dependência, e afirma: “o que mantém o indivíduo fumando é o alívio dos sintomas de abstinência”, e indica a Terapia Cognitivo Comportamental como tratamento em que tem tido grande sucesso quando se trata da dependência nicotínica.
        
Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) no tratamento da dependência de álcool e/ou tabaco
Para Silva e Serra (2004) a Teoria Cognitivo Comportamental (TCC) pode ser aplicada ao tratamento de pessoas usuárias de álcool e tabaco, pois a dependência química se dá devido a uma combinação de fatores cognitivos e comportamentais, isto é, por haver uma intensa e complexa interação entre a capacidade humana de formular pensamentos e crenças disfuncionais e associadas ao consumo ou não de substâncias, como também os fatores ambientais, por exemplo, relacionamentos sociais e familiares que reforçam ou não o uso destas drogas, e desencadeiam comportamentos desadaptados ou não.
         Bahls e Navolar (2004) apontam várias técnicas utilizadas pela abordagem Cognitiva Comportamental e para a dependência de álcool e tabaco, e concordam que o pensamento influencia o afeto, o comportamento e as respostas neurobiológicas do adicto. Para eles o objetivo da TCC que é, capacitar o indivíduo a corrigir os pensamentos automáticos e a superar as estratégias compensatórias que ele define para si, e os comportamentos disfuncionais frente à dependência química que o álcool e o tabaco provocam. Segundo os autores os indivíduos apresentam comportamentos disfuncionais quando atribuem significados incorretos a um contexto ou objetivos específicos relacionados às realidades que vivenciam.
A TCC verifica o comportamento que os indivíduos apresentam frente à dependência química que o álcool e o tabaco promovem. Busca-se compreender quais são os estímulos específicos, chamados de comportamentos reflexos, que são involuntários, e os comportamentos operantes, e que são voluntários e passíveis de serem modificados, graças a atuação dos indivíduos e os reforços que condicionam ou não a um determinado comportamento, e que se sofrerem algum tipo de interferência podem alterar o comportamento que se deseja ser extinto. Todo comportamento pode ser alterado graças ao esquema de reforços contínuos ou intermitentes que o indivíduo recebe, sendo que o reforço positivo é mais adequado quando se quer promover uma mudança prolongada e eficaz no comportamento que ele apresenta (SKINNER, 1982).
Se a dependência química promovida pelo uso do álcool e tabaco for considerada como um comportamento disfuncional deve-se levar em consideração tanto a capacidade cognitiva quanto o fenômeno comportamental, pois ambos estão interligados. O terapeuta cognitivo-comportamental deve levantar, junto com o paciente, todas as situações, lugares, amizades, que o condicionam ao uso destas drogas, e assim ajudá-lo a vivenciar novos reforços, positivos ou negativos, que causam satisfação ou desprazer, para que seu comportamento seja modificado (SILVA E SERRA, 2004).
A TCC conscientiza sobre os prejuízos sociais relacionados ao consumo, como por exemplo, a perda de contatos sociais, amigos e diversões, e que é possível reaprender a lidar com situações frustrantes e afetos negativos, normalmente relatados como justificativas para o consumo, e que estes podem representar um reforço positivo de curta duração (satisfação momentânea). A TCC estimula o paciente a buscar prazeres em situações que não ameaçam sua saúde física e social, e procura encontrar outras recompensas que não sejam pelo uso de drogas. Pode-se adotar o sistema de Vouchers, cartões onde são acumulados pontos (comportamentos desejados), e que podem ser trocados por objetos que correspondam a objetos relacionados ao novo estilo de vida (meta terapêutica), como por exemplo: ingressos a eventos culturais e esportivos. Os Vouchers podem ajudar n prevenção de recaídas (SILVA E SERRA, 2004).
Silva e Serra alertam para a necessidade (terapeuta) de verificar as crenças distorcidas do paciente quanto a possibilidade de desfrutar prazeres tão intensos e imediatos promovidos pelo consumo de substâncias, e afirmam:
O terapeuta cognitivo formula as ideias e crenças disfuncionais do paciente sobre si, sobre suas experiências e sobre seu futuro em hipóteses e, então, testa a validade dessas hipóteses de uma forma objetiva e sistemática (SILVA e SERRA, 2004, p.5).

Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e prevenção de recaídas
         Quanto mais positiva for a avaliação que o indivíduo faz de si mesmo ao alcançar uma meta, menores são as possibilidades de voltar a fazer uso do álcool  ou do tabaco; assim a probabilidade de recaída é, sensivelmente, diminuída. A recaída se dá quando o indivíduo tem uma visão fragmentada do efeito da droga em seu organismo, e isto se dá quando se atribui grande importância às sensações ou imagens positivas que estas drogas proporcionam, e também, quando se acredita que a violação da abstinência é suficiente para justificar o retorno do uso da droga, nos mesmos padrões antes da recaída, e ainda estar atento aos pensamentos disfuncionais, para que o paciente identifique-os e encontre bases racionais na realidade que está vivendo (SILVA E SERRA, 2004).
         Conforme Rangé e Marlatt (2008) quando a questão da recaída é posta no tratamento de pessoas que usam do álcool e tabaco, a TCC trabalha com o conceito de auto-eficácia, que propõe aos indivíduos desenvolver um comportamento mais assertivo, a partir da confiança própria que elas podem apresentá-lo.
Mudanças no estilo de vida são um elemento central para reduzir a probabilidade de recaídas, como a redução de fontes de estresse, busca de um equilíbrio entre prazer a obrigação, prática de exercícios físicos, tentativa de melhorar a alimentação por meio de uma dieta mais balanceada, ioga, meditação ou outra forma de relaxamento e o uso de técnicas de inoculação de estresse (RANGÉ e MARLATT, 2008).

Para que a TCC obtenha sucesso é preciso, antes de tudo, que se estabeleça uma forte aliança terapêutica (Rapport), alcançada com empatia e aceitação incondicional do paciente, só assim pode-se compreender a dor e o medo que o paciente expressa muitas vezes em forma de hostilidade e resistência ao tratamento, e que podem possivelmente contribuir para a uma recaída. Cabe lembrar que o paciente precisa aprender técnicas de resolução de problemas, para superar as condições em que corre o risco de recair no uso do álcool ou do tabaco, para isso se faz necessário registrar diariamente os pensamentos que perpassam à sua mente, procurando dar respostas mais racionais, tentar adiar o uso das drogas por pelo menos durante 30 minutos, tempo que dura a síndrome de abstinência, e procurar manter metas de longo prazo, e desprezar a vontade de ser recompensado imediatamente, assim que surge o desejo; são recomendados os seguintes treinamentos: de habilidade, de autocontrole, mas também, entrevista motivacional breve, manejo de estresse, terapia conjugal comportamental e reforço da vivência comunitária (RANGÉ E MARLATT, 2008).
Para Rangé e Marlatt (2008) não é conveniente esperar resultados imediatos no tratamento de pessoas dependentes de substâncias químicas encontradas quer no álcool ou no tabaco, por isso é importante não demonstrar desesperança, pois a responsabilidade pelos problemas enfrentados pelo paciente é sua, e não do terapeuta

Objetivo
Investigar na literatura em Psicologia as concepções teóricas da Teoria Cognitivo Comportamental enquanto modalidade terapêutica e sua aplicabilidade no tratamento da dependência de álcool e tabaco, e na prevenção de recaída.

Método
                  Trata-se de um estudo de revisão de literatura, cujo método utilizado para a coleta de dados foi o levantamento bibliográfico, por meio de busca eletrônica de artigos indexados nas bases de dados de revistas especializadas em Psicologia, e de livros disponíveis no acervo bibliográfico da biblioteca central da Associação Cultural e Educacional de Garça/SP, a partir das palavras-chave: Terapia Cognitivo Comportamental, Dependência Química, Álcool, Tabaco; e realizada análise qualitativa dos textos levantados, agrupando-se os dados mais relevantes acerca dos livros e artigos consultados.

Considerações finais
         A síndrome de abstinência tem se revelado o motivo mais forte para que os indivíduos que fazem uso do álcool e tabaco mudem de hábito, associada às causas que os levaram a se tornarem dependentes, a saber: comportamentos e pensamentos disfuncionais que geram a partir da realidade emocional e social que vivenciam.
         O tratamento que a TCC recomenda é a compreensão dos estímulos específicos, os comportamentos reflexos e operantes, e que podem ser modificados através de pensamentos e comportamentos alterados, através de reforços positivos, e consiste no levantamento de todas as situações, lugares e amizades, bem como de pensamentos e crenças dos indivíduos dependentes, e ajudá-lo na modificação do seu comportamento disfuncional, demonstrando-lhes os prejuízos sociais que está sujeito, bem como de que pode aprender a lidar racionalmente com as situações frustrantes e afetos negativos, que os levam a justificar o uso destas drogas. O sistema de Vouchers é recomendado no acompanhamento do tratamento, e contribui para que os indivíduos aprendam a se autoavaliarem de maneira mais positiva, evitando recaídas, comuns aos quadros de dependência da nicotina e álcool, e pode ser feito através de aprendizagem de técnicas de resolução de problemas, dar respostas mais racionais aos seus desejos.

Referências bibliográficas
BAHLS, S. C. e NAVOLAR, A. B. B. Terapia Cognitivo-Comportamentais: conceitos e pressupostos teóricos. Revista Eletrônica Psicoutponline. nº 04: Curitiba, 2004.

CAVALCANTE, M. B. P. T.; ALVES, M. D. e BARROSO, M. G. T. Adolescência, álcool e drogas: uma revisão na perspectiva da promoção da saúde.  Revista de Enfermagem; vol. 12 (3): pp. 555-559, 2008.

Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

HOLMES, D. S. Psicologia dos transtornos mentais. 2ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

LARANJEIRA, R. e GIGLIOTTI, A. Tratamento da dependência à nicotina. Revista Eletrônica Psiquiatria na prática médica. vol. 33 (2): UNIFESP, 2000.

PINHO, V. D.; OLIVA, A. D. Social skills in smokers, non-smokers and ex-smokers. Revista Brasileira de Terapia Cognitiva.  Rio de Janeiro,  vol. 3 (2): 2007.

RANGE, B. P.; MARLATT, G. A. Terapia cognitivo-comportamental de transtornos de abuso de álcool e drogas. Revista Brasileira de Psiquiatria,  São Paulo,  2011.

SILVA, C. J.; SERRA, A. M. Terapias Cognitiva e Cognitivo-Comportamental em dependência química. Revista Brasileira de Psiquiatria.  São Paulo,  2011.

SKINNER, B. F. Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix. 1982.

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