quinta-feira, 13 de outubro de 2011

As crianças estão sofrendo


            O que é mais importante: “ser” ou “parecer ser”?
            A aparência é fundamental na sociedade de consumo. Aparência e consumo formam um par perfeito. Esta perfeição permanece, porque os produtos são feitos para serem descartáveis, e quanto mais rapidamente são substituídos, mais a aparência é valorizada, porque pregam um estilo de vida.
            Este é um problema que afeta aos adultos e às crianças. Se para os adultos é difícil exercer a necessária separação entre “ser” e “parecer ser”, não é difícil perceber que as crianças sofram ainda mais, pois têm a sua capacidade de discernimento em formação.
            Se perguntarmos a uma criança – o que você quer ser quando crescer – possivelmente as respostas estarão relacionadas ao ter: “Eu quero ter dinheiro”. “Eu quero ter o mundo para mim”. “Eu quero roupas, sandálias, bolsas, sapatinhos, botas”. Se se lembrarem do “ser”, as respostas poderão ser: “Eu quero ser jovem”. “Eu quero ser bonita”. “Eu quero nunca morrer”. O pano de fundo continua sendo a ideia do “ter”.
            Por que estamos fazendo isto para as crianças?
            Porque muitos adultos, inicialmente os pais, estão abdicando da tarefa de educar. E, por quê? Porque muitos adultos acham que educar é uma exigência que deixa as pessoas chatas. Por isso a educação está sendo transferida para a escola, para a Igreja, para a TV. Mas, quem disse que esta tarefa pode ser delegada? E, como nem a escola, nem a Igreja, nem a TV querem fazer este papel, as crianças, simplesmente, acreditam que podem crescer sem aprender a reprimir coisa alguma que passa em sua fantasia.
            Os adultos não querem ser chatos! Os adultos não querem desagradar às crianças! E, por quê? Porque os adultos querem ver as crianças felizes. Mas, pense: crianças sorridentes são crianças felizes? A felicidade não se resume a um simples sorriso. Criança feliz é aquela que aprende que há coisas em sua fantasia que não podem ser realizadas para o seu próprio bem, e para o bem dos outros, e isto certamente gera desprazer, e desagrado.
            A psicóloga Rosely Sayão afirma: “É preciso ensinar a criança a perceber e a entender na experiência, na vivência real, de que ela não é única da sua espécie, que ela é mais uma da sua espécie; que ela não é a primeira, que muitos estiveram aqui antes dela, e que construíram algumas coisas antes dela nascer; e, que ela não será a última, que outros virão. Esta função da família não tem sido cumprida” (Confira: http://www.cpflcultura.com.br/site/2010/04/23/filhos-melhor-nao-te-los/).
            Assim como tratam a um computador, a um celular, a um eletrodoméstico ou a um automóvel, os adultos pensam que educam as crianças quando dão algum tipo de assistência a elas. Ora, assistência é um termo do mundo do consumo, e não da família. Isto indica uma só coisa: perdemos a ideia do que seja uma criança. As crianças estão sofrendo porque os adultos acham que elas não dependem, nem precisam mais deles.
            Os adultos precisam respeitar o desenvolvimento cognitivo infantil. As crianças precisam ser crianças. Elas não são bens de consumo, muito menos descartáveis, ainda que alguns adultos gostassem que assim o fossem.
            Até quando vamos permitir que as crianças sofram, mesmo sorrindo?

Nenhum comentário:

Postar um comentário