sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A contemporaneidade de Erich Fromm


            “A Alemanha está adquirindo nova ascendência na Europa Ocidental, desta vez não pela guerra, mas pela sua superioridade econômica num bloco econômico unificado. Essa Alemanha dominando a França, Holanda, Bélgica e talvez a Itália, estaria mais forte do nunca”.
            Não, estas palavras não foram registradas por nenhum veículo da imprensa estrangeira nem brasileira. Trata-se da opinião do psicanalista alemão, e naturalizado norte-americano Erich Fromm (1900-1980), em seu “A sobrevivência da humanidade” (4ª Ed., Zahar Editores, 1969, p. 157).
            Originalmente publicada há 50 anos, a obra de Fromm aponta a Alemanha como o maior obstáculo para a pacificação do mundo. Para o escritor de mais de 20 livros, o mundo não percebe que a Alemanha representa uma ameaça à paz mundial porque esta se defende sempre com o mesmo discurso: os interesses econômicos da indústria pesada, que funciona num sistema de cartéis.
            Na visão do filósofo e sociólogo, desde 1870 a indústria alemã apresenta um “desenvolvimento extraordinariamente rápido”, graças a sua “mão de obra disciplinada e capaz”, apesar de seu pequeno mercado consumidor (p. 152). Segundo Fromm, sob o slogan “Volk obne raum” (Povo sem espaço) militares e industriais se uniram na defesa de seus interesses nacionalistas e econômicos, quando fundaram a República de Weimar em 1917.
Fromm faz referência a outro fator que fez da Alemanha uma ameaça a paz mundial: em 1933, o austríaco Adolf Hitler (1889-1945) apresenta seu programa de recuperação econômica e militar ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, e é escolhido por ampla maioria para implementá-lo, no qual defendia a empresa privada para conquistar novos mercados e a exportação dos produtos alemães, um regime autoritário e o rearmamento militar do país, acirrando ainda mais o radicalismo militar e político. Fromm afirma: “Há hoje amplo material para mostrar como Hitler foi apoiado pela indústria pesada, e como jamais poderia ter conquistado o poder sem este apoio” (p. 154).
Segundo Fromm: “O importante é que não foi Hitler quem causou a 2ª Guerra Mundial, mas a mesma aliança entre a indústria e os militares, que constituíra a força motora da 1ª Guerra Mundial [...] os nazistas foram considerados os verdadeiros culpados, ao invés das pessoas que os empreitaram” (p. 155).
Estes elementos históricos apresentados por Erich Fromm são necessários para compreendermos o que está acontecendo no mundo hoje: não é a toa que a Alemanha, agora acompanhada da França, esteja mais uma vez à frente de todo o processo de recuperação financeira em vários países da zona do euro como a Grécia, e dos processos de “democratização” dos países árabes; e, as manifestações contra o sistema financeiro mundial, como Occupy Wall Street, ocorridas inclusive no Brasil nas últimas semanas, que os meios de comunicação querem nos fazer acreditar que se trata apenas de mais um movimento formado por “desempregados, baderneiros, solteiros em busca de parceiros sexuais, ou de mais uma demonstração do poder da hashtag do Twitter” (segundo as coberturas dos grandes jornais do País), nos dão conta de que os estragos sociais chegaram àqueles que sustentaram o funcionamento perverso deste sistema.

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