domingo, 22 de maio de 2011

Consumo como valor (II)


            Junte a família, faça estas perguntas e discuta as respostas, que se propõem apenas como início para uma troca de ideias.
            Por que diante de tantos apelos para consumir os adultos são tratados como se fossem crianças? Porque a criança crê em tudo o que ouve e vê, e dificilmente questiona, mas sofre bastante quando se sente frustrada.
            Por que certos produtos nos seduzem a ponto de acharmos que se os possuirmos nossos problemas acabarão? Porque tudo que está à venda está carregado de uma mensagem emocional tão forte que nos convencemos disto.
            Por que não conseguimos controlar nossos impulsos diante da possibilidade de consumir, até coisas que sabemos que não precisamos? Porque não suportamos o desprazer de não poder ter tudo, e não suportamos a infelicidade de ter tornado a vida artificial, isto é, como se o simples prazer de existir não fosse mais suficiente.
            Por que aceitamos, passivamente, que as crianças não podem trabalhar, mas podem comprar como se tivessem salários? Porque achamos que elas são consumidoras, e que precisam ser educadas como tais, sem nos importarmos com o sofrimento que o consumo causa a elas também.
            Por que os adultos estão sendo tratados como crianças, e as crianças como se fossem adultas, pelo mercado em geral? Porque estamos nos adaptando ao tédio, isto é, ao fastio de produtos que são feitos para durar até o momento em que os desejamos.
            Por que adiantamos datas como o Natal? Porque não conseguimos driblar a dor da espera pelo momento mais apropriado; e estamos sufocando a nossa criatividade pela ansiedade e pela raiva que sentimos de nós mesmos, porque acreditamos que o tempo passa muito rápido, e não dá para desfrutar das coisas no tempo que elas devem durar.
            Por que nos sentimos merecedores por possuir determinado produto? Porque queremos nos sentir poderosos, e que tudo está ao alcance das mãos, como se estivéssemos vivendo num conto de fadas, no qual tudo é possível.
            Por que os produtos nos são apresentados como sendo “maravilhosos”? Porque no momento da compra ficamos muito próximos do estado hipnótico, nossos olhos piscam bem menos que o normal, segundo os pesquisadores.
            Por que somos atraídos pelos nossos sentidos naturais: visão, tato, olfato, audição e paladar? Porque sem saber, estamos sendo vigiados constantemente para que novos produtos cheguem ao mercado e nos atendam biologicamente, sem que precisemos dar um testemunho subjetivo quanto às impressões que nos causaram.
            Por que o consumismo pode ser simbolizado como uma rede que passa sobre nós e nos apanha, aparentemente, sem que a percebamos? Porque nossos gestos e gostos estão sendo analisados o tempo todo, com previsão, antecedência e precisão cirúrgica.
            Por que toleramos a avalanche de produtos, como se todos nós tivéssemos as mesmas condições para consumi-los? Porque não nos importamos com as consequências como a violência, a obesidade, vícios variados, vaidade e futilidade que podem gerar na sociedade, desde que não seja conosco.
            Por que aceitamos propaganda com manipulação do imaginário? Porque nos adaptamos à perversidade de que tudo virou entretenimento, e que nós não pensamos.

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