domingo, 22 de maio de 2011

Vamos às compras?


            Não é só o preço da mercadoria que leva você e eu a comprá-la. O principal fator que nos leva a decidir por um produto é inconsciente.
            A decisão é um movimento interior, e muitas vezes instintivo, pois em toda compra está presente a experiência de um sentimento. É isto: compramos porque sentimos, e se sentimos, compramos; por isso os produtos são veiculados por mecanismos vinculados aos nossos sentidos.
            O consumo evoca experiências humanas que há muito tempo despertam nossos interesses mais primitivos, e quanto maior for o vínculo com estas experiências, maior a chance do produto ser adquirido. Por exemplo: se um perfume conseguir mexer com nossas reminiscências afetivas, tem sua venda garantida.
            Não compramos por instinto, ao contrário, o instinto nos leva a comprar. A compra instintiva é irrefletida; porém, sempre é possível refletir antes de qualquer compra, apesar de sempre consumirmos produtos que nos lembram alguma experiência arquetípica, isto é, formas típicas de apreensão da realidade e de reação a ela comuns a todos, porque esta é a fonte que alimenta o consumo.
            Na opinião da publicitária Maryjane Oliveira: “Na tentativa das marcas em oferecer experiências profundas ao consumidor, uma marca com identidade arquetípica evoca experiências a nível profundo da mente humana, podendo ativar no consumidor um senso de reconhecimento, transportado até a marca. Na busca pela diferenciação num mercado competitivo e repleto de marcas, as empresas prometem experiências cada vez mais motivadoras. Tudo o que se relaciona com criação de valor agregado à marca envolve atributos, sentimentos e percepções, tornando-a um corpo vivo. Num mercado onde o valor intangível da marca é o grande diferencial e não mais o produto físico, torna-se necessário oferecer a ela um DNA, credibilidade e consistência. Marcas fortes são ricas em forma e substância e costumam evocar associações de caráter fecundo” (http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/files/others/Artigo%20Acad%C3%AAmico.pdf).
A cada compra buscamos as experiências que nos fazem vivenciar a parte que nos distingue de todas as demais criaturas. Enquanto as árvores, os animais, os astros, os elementos químicos, e até as bactérias, consomem para sobreviver, nós consumimos para dar significado e direção à nossa existência. Se algum produto nos promete que, se o consumirmos, os obstáculos que estamos defrontando serão vencidos (por exemplo, remédios que melhorarão a saúde, ou uma lente e/ou armação de óculos que nos farão bem aos olhos), imediatamente vamos comprá-lo porque queremos nos sentir determinados e corajosos em nossas dificuldades.
Não temos como nos livrar do consumo, e isto não só porque vivemos numa economia capitalista, mas porque tudo que é produzido saiu de alguma camada da nossa interioridade. O perigo é quando atribuímos aos produtos oferecidos no mercado uma identidade própria, como ilustram as obras de ficção científica, tanto na literatura quanto na sétima arte, onde o homem é relativizado pelos objetos “com vida própria”.
Nesta época do ano em que tudo parece ter “vida própria”, mantenha viva sua capacidade de dar significado e direção à sua existência.

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