segunda-feira, 9 de maio de 2011

O que está por trás da guerra contra o terror?


            O fator que mais interfere na guerra contra o terrorismo, que culminou com a morte de Osama Bin Laden (1957-2011), e que pouco tem sido referido nas análises sobre este fenômeno, porque implica na difícil tarefa de reconhecimento das deficiências morais de ambas as partes, se chama projeção. Na realidade, o processo da projeção participa de todas as formas como nós nos relacionamos com o próximo e com os objetos: entre homens e mulheres, entre políticos e sociedade, entre policiais e criminosos, entre pais e filhos, entre ricos e pobres, entre religiosos e fiéis, entre professores e alunos, entre sãos e enfermos, entre consumidores e mercadorias.
Projeção é a arma de defesa mais usada para abafar a ansiedade gerada quando não assumo os meus próprios defeitos. Porque me sinto mal com aquilo que não desejo ser e procuro esconder dos outros, porque não admito que sou tão baixo, inferior ou inepto como eles, lanço sobre eles e até mesmo sobre objetos, este meu sentimento. Sinto um tremendo bem-estar, na verdade bastante provisório, quando não assumo, por exemplo, que deveria ser mais prudente antes de escorregar numa casca de banana fora da lata de lixo. No relacionamento com outras pessoas, não demoro em perceber os comportamentos que posso aceitar e outros que me inspiram a viver melhor, como também aqueles que devo rejeitar veementemente, mas que no fundo, também, posso manifestá-los, e às vezes, até mais requintados. Assim entendem-se as comuns antipatias pessoais, até os cruéis preconceitos e perseguições de nosso tempo.
Antes das guerras contra o terrorismo, os Bush e os Bin Laden lucraram muito com os negócios petrolíferos que mantinham; colaboraram, mutuamente, na guerra contra os russos no Afeganistão, nos anos 80 do século passado. Até então, possivelmente, se idealizavam um ao outro, não percebendo as negatividades que nutriam um pelo outro, até levarem o mundo todo a sofrer as consequências desta guerra.
Ao expulsar para um objeto, pessoa, ou pessoas o conteúdo subjetivo que deveria ser admitido e assimilado, tem-se a impressão de que se está livre das dores e incômodos emocionais que ele provoca, porque o objeto, a pessoa ou as pessoas passam a ser encarados como “encarnações do mal”.
“Todos usam a projeção como uma defesa para evitar olhar para dentro de si mesmos” (CHOPRA, D. O efeito sombra. São Paulo: Lua de papel, 2010, p.52).
É isto que se verifica em todas as guerras, em todos os tempos. E na guerra contra o terrorismo não é diferente desde 11 de Setembro de 2001, e até mesmo antes. É como se as nações em guerra dissessem: “Eu não fiz nada. É tudo culpa sua”.
Por trás de cada tiro, de cada pedra que é jogada, de cada bomba que explode, de cada soldado que tomba, de cada civil morto, de cada bandeira queimada, de cada manifestação contra a presença das tropas dos EUA no Oriente, de cada pronunciamento dos políticos acerca dos conflitos, assistimos ao movimento do processo de perceber como estando nos outros os conteúdos do inconsciente de cada um dos lados envolvidos na questão.
Para tentar solucionar este e outros conflitos em que a projeção se faz presente, é necessário reintegrar ou recuperar o sentimento do qual deseja se livrar, enfrentando-o, apesar da angústia que provoca. Só assim é possível perceber a semelhança existente entre as partes em conflito, e o que o sentimento está falando a seu respeito.

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