domingo, 22 de maio de 2011

Homenagem a Helena Silveira


A história da Igreja Presbiteriana do Brasil, e especialmente nas terras das Minas Gerais, durante a maior parte do tempo do século XX, e início do século XXI, não pode omitir do nome de Helena Silveira. Suas atividades como mulher e missionária influenciaram Igrejas e Concílios brasileiros e estrangeiros, mas especialmente a vida de muitas pessoas, quer como professora de Escolas Dominicais das Igrejas locais, quer como responsável pelos campos missionários para onde fora enviada. Ela participou de todos os momentos de uma vida humana da maternidade ao cemitério, do batismo ao matrimônio, do ensino dos princípios elementares aos temas mais profundos das Escrituras Sagradas, dos catecumenatos aos pastores, missionários e membros da intelectualidade teológica; sua presença é real e inesquecível em tudo que se relaciona à ciência da pregação e pedagogia cristãs.
         Helena jamais deixou de ser missionária na mais estrita acepção da palavra, apesar das limitações tão próprias daqueles que atendem à vocação divina, porque vive a simplicidade como um dos maiores valores do espírito humano, com resignação, mas com persistência, recusando tudo que possa impedi-la no exercício de suas funções. Talvez este seja o grande segredo de sua vida, aprendido com seu pai, sempre lembrado com saudade e admiração. Sua formação intelectual se deu num dos períodos mais importantes da história da educação neste País, por isso sempre está preparada para debater sobre todos os assuntos quando lhe pedem sua opinião, à qual se recomenda atenção e consideração, pois sempre será sábia e inteligente por ser carregada de emoções e experiências com o poder de Deus.
         “Dona Helena”, como sempre a tratei, participa da vida de todas as pessoas com quem tem contato, buscando o melhor para elas e suas família, preocupando-se com os pobres, doentes, órfãos, solitários, desempregados, mas também com os ricos, empresários, professores, advogados, etc.
         Nos anos 1990-1992, período em que desempenhei as funções pastorais junto das Igrejas Presbiterianas de Divinópolis/MG, a presença e participação de “Dona Helena” foram enriquecedores: seus posicionamentos frente às dificuldades comuns a todas as comunidades religiosas, contribuíam bastante no encaminhamento que precisava dar às mesmas; presente e atuante em todos os cultos semanais, reuniões de oração, estudos bíblicos, bem como em atividades recreativas que promovem o espírito de confraternização e o fortalecimento da comunhão cristã, traziam inspiração e segurança a todos os membros das Igrejas, porque sua figura alegre, simpática é querida e admirada por todos; e, outra das suas características que merece ser destacada, e principalmente nos dias de hoje, é a sua fidelidade aos compromissos financeiros com o dízimo e ofertas à Igreja, sendo nisto também, exemplo a ser seguido por todos, pobres e ricos, pois sua vida é prova viva de que as “janelas do céu” estão abertas sobre aqueles que servem ao Senhor com seus dízimos. Ser dizimista é uma atitude corajosa que não pode ser desprezada, talvez por isso seja tão impopular, especialmente entre aqueles que não tem motivos para o serem, mas que podem mudar de opinião.
O que mais me incentivou como jovem ministro presbiteriano não foram as técnicas que “Dona Helena” empregava em suas atividades como professora de crianças, adolescentes e jovens da Escola Dominical, ou como sócia da Sociedade Auxiliadora Feminina (SAF), mas sim sua dedicação àquilo que considerava relevante na vida de um membro da Igreja, presença e participação ativa e responsável.
         Sílvia (minha esposa) e eu tivemos o privilégio de passar por momentos especiais juntos com “Dona Helena”: ficamos noivos em seu apartamento “majestoso”, como chama o edifício onde reside; esteve presente na cerimônia de nosso casamento, na Igreja Presbiteriana de Iacanga (26/01/1991); viajamos algumas vezes no “chevettinho”, que numa ocasião, indo para Belo Horizonte/MG, a roda traseira se soltara, porque a “porquinha”, como ela sempre se recorda, quando conversamos por telefone, não estava bem apertada – de fato, aquela foi uma experiência inesquecível, mais uma; participamos de outras situações divertidas, como festas de nossos aniversários e churrascos no Horto Florestal da cidade, apesar de serem raros, devido às grandes dificuldades financeiras que passávamos à época; quando soube que fui aceito como professor no Seminário Presbiteriano “Rev. Nicodemos Eller”, na capital, pareceu-me ter ficado satisfeita e contente, pois assim eu realizava um desejo pessoal, e exigia uma maior preparação para o sagrado ministério.
         Como me referi no início, Helena sempre permaneceu uma missionária, talvez por isso sua visão às vezes pareça um tanto pessimista e crítica em relação aos caminhos adotados pelas autoridades da Igreja, sobretudo local. Em minha opinião, isto se dá porque ela, constantemente, recorda das experiências quando esteve à frente de comunidades, ocasiões que tomava decisões sob orientação de missionários americanos, ou sozinha. Digo isto não para criticar suas opiniões, mas sim para mostrar e realçar sua experiência de vida e sua espiritualidade, evidentemente condicionadas pelo espírito de seu tempo: vivia intensamente os ideais dos últimos dias de avivamento religioso vividos pela Igreja Presbiteriana do Brasil. Este era o pano de fundo espiritual que não pode ser separado da figura de “Dona Helena”. Ela viveu um período de crescimento das comunidades presbiterianas que ainda estavam sob o impacto dos sonhos missionários de Ashbel Green Simonton (1833-1867), pioneiro do presbiterianismo brasileiro. Portanto, ela é um patrimônio vivo do trabalho realizado pela Missão Americana, que dava continuidade aos objetivos daquele americano, como aberturas de novas Igrejas, escolas, hospitais e publicação de obras evangélicas, como jornais e/ou livros. Esta realidade nos faz considerar algumas coisas: a dimensão de suas preocupações quanto ao futuro das Igrejas, visto vivermos outros tempos, e a responsabilidade que está em nossas mãos, que não podem se envolver com outras tarefas senão assumirmos os desafios que a contemporaneidade nos lança a todo o tempo.
         Não é tarefa fácil falar de Helena Silveira, e participar deste livro é um grande privilégio porque nesta oportunidade podemos considerar as palavras de Carl Gustav Jung (1875-1961), psiquiatra suíço e filho de pastor luterano, que afirmou: “Nós podemos sucumbir a um envolvimento quando não percebemos em tempo por que fomos envolvidos” (O Espírito na Arte e na Ciência. Vozes: Petrópolis, 1985, p. 44). Durante estes mais de vinte anos de amizade, hoje sei que fui envolvido pela “Dona Helena”, para reconhecer que ela é uma, entre tantas, da “multidão dos que crêem, observando-nos da tribuna principal”, segundo o escritor da epístola aos Hebreus (12.1), e que também temos de “correr com perseverança a carreira especial que Deus pôs diante de nós”, assim como ela.

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