terça-feira, 17 de maio de 2011

Medo (I)


            Não temos como nos livrar completamente dele. Na verdade, faz parte do nosso desenvolvimento: assim como aprendemos a andar, falar, escrever, também o adquirimos através da aprendizagem; podendo ser experimentado diversamente, dependendo do estágio da vida em que nos encontramos.
            Ele compõe enredos literários, passando por contos, novelas ou poesias; é objeto de estudo de diversas ciências da sociologia, filosofia ou psicologia; participa do estado de insegurança que a violência gera; permeia os sentimentos dos que se encontram em tratamento médico, ou quando recebem um diagnóstico; ronda quando ficamos próximos de pessoas desconhecidas; interfere numa entrevista de emprego; integra os nossos discursos quando falamos de pessoas em situação de rua, por exemplo; está presente quando pensamos acerca do futuro pessoal, familiar ou do planeta; em algumas situações é percebido mais por mulheres do que por homens; interfere no enfrentamento de circunstâncias, como deixar a família para se casar ou na separação conjugal, doar sangue ou órgãos; paralisa novas experiências e novos conhecimentos; etc.
            Refiro-me ao medo. O medo é uma emoção.
Eduardo Augusto Remor, doutor em Psicologia da Universidad Autónoma de Madrid, diferencia medo e ansiedade: “medo envolve a avaliação de um evento como perigoso ou ameaçador, enquanto que ansiedade refere-se à reação emocional decorrente da avaliação” (Tratamento psicológico do medo de viajar de avião, a partir do modelo cognitivo: caso clínico. Psicol. Reflex. Crít. Vol. 13 n. 1. Porto Alegre: 2000).
O medo é necessário para termos a real dimensão das ameaças que sofremos nos diversos eventos que nos acontecem. Sem esta emoção, nos sentimos onipotentes, e tratamos como trivial a transitoriedade da existência e a própria mortalidade, isto é, perdemos a sensibilidade e respeito para com o próximo ou por nós mesmos.
                Para o psiquiatra suíço Heinrich Karl Fierz (1912-1974), o medo se instala quando falta orientação. Ele afirma: “a pessoa temerosa é incapaz de agir” (Psiquiatria junguiana. São Paulo: Paulus, 1997 p. 278).
            Sem orientação segura, recuamos todas as vezes que precisamos avançar. Orientar-se é ter capacidade de avaliar a situação. Quanto mais realistas formos em nossa avaliação acerca das circunstâncias, mais próximos da verdade estaremos.  E nesta tarefa não podemos ser preguiçosos, se quisermos ganhar vantagens sobre o medo.  Por mais desafiadoras que sejam as circunstâncias, mais exigentes precisamos ser. “A verdade sobrepuja o medo e inspira confiança” (idem, p. 295).
O medo declara nossos limites, contudo, isto não significa que devamos nos deixar aprisionar por ele, mas sim devemos buscar avaliar, séria e determinadamente, qual a verdade que estamos negligenciando a respeito do que nos faz sentir medo.
Pode ser que a orientação que precisamos é: tomar certos cuidados com nossa saúde, usando corretamente os medicamentos; sermos prudentes quanto às mudanças que precisamos dar à vida, às vezes necessárias, para sermos emocionalmente mais maduros; mesmo que as decisões tomadas não tenham sido acertadas, muitas vezes por ingenuidade, podem ser alteradas, quando se reconhece e se presta atendimento às necessidades geradas, por exemplo. Qual orientação você procura? Encontre-a.

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