domingo, 22 de maio de 2011

Medo (II)


            Quem está sujeito a sentir medo?
“Nossos medos alteram-se com idade, gênero, classe sócio-econômica, nível de desenvolvimento cognitivo e outras variáveis de natureza individual ou social” (Antonio Roazzi; Fabiana C. B. Federicci; Maria do Rosário Carvalho. A questão do consenso nas representações sociais: um estudo do medo entre adultos. Psic. Teor. e Pesq. V. 18 n.2. Brasília: 2002).
Quanto menor for a nossa capacidade de avaliar a vida, menor será o medo. Quanto mais apurada for a nossa noção de vida, maior será a sensação de medo. Por isso podemos dizer que há vários tipos de medo. A criança sofre medos que os idosos não sofrem; os ricos temem por coisas que os pobres não temem; o intelectual sente um medo diferente do símplice; as mulheres sentem um tipo de medo, e os homens, outro.
O medo é diferente de pessoa para pessoa, e não importa se é imaginária ou real a situação de perigo que sofre. Nem sempre somos suficientemente capazes de admitir ou de verbalizar o quanto somos medrosos. A maioria de nós procura diminuir as experiências desagradáveis, na tentativa de “despistar” o medo, prolongando aquelas que julgam positivas, com o propósito de atenuar o medo.
Segundo os autores acima citados, o medo também é uma emoção “governada” pelo grupo social a que pertenço, isto é, dependendo do valor que atribuo às opiniões dos outros, o meu medo será mais forte ou mais fraco, porque procuro de alguma forma antecipar a aprovação ou a desaprovação alheias sobre o que pode acontecer comigo. Por isso é comum as pessoas se aproximarem daquelas que lhes dão sensação de segurança quanto aos seus próprios valores, e se afastam das que, possivelmente, podem censurar de alguma maneira seu estilo de vida.
O medo também pode ser compreendido como uma emoção íntima, a decepção. É o medo que “se dirige ao nosso ser íntimo”, conforme Marco Aurélio Werle, professor da USP, em “A angústia, o nada e a morte em Heidegger” (Trans/Form/Ação. V. 26, n.1. Marília: 2003).
O medo surge também quando nos vemos desafiados a desenvolver novas habilidades, sem as quais sabemos que não temos como sobreviver às dificuldades que enfrentamos sozinhos. Nesta situação temos “duas possibilidades: ou ficamos tomados pelo medo e por ele subjugados, ou lutaremos corajosamente para vencer esse medo” (Mônica Giacomini Guedes da Silva. Doença terminal, perspectiva de morte: um trabalho desafiador ao profissional da saúde que luta contra ela... Rev. SBPH. V.10 n.2. Rio de Janeiro: 2007).
E a religião, tem alguma participação no sentido de ao menos atenuar o medo? Para Rubem Alves (1933-): “A religião se nos apresenta como um discurso, uma rede de símbolos. Com esses símbolos os homens discriminam objetos, tempos e espaços, construindo, com o seu auxílio, uma abóbada sagrada com que recobrem o seu mundo. Talvez porque sem ela o mundo seja por demais frio e escuro. Com seus símbolos sagrados o homem exorciza o medo e constrói diques contra o caos” (O que é religião. São Paulo: Abril Cultural e Brasiliense, 1984, p. 24).

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