sexta-feira, 29 de abril de 2011

Aos Pais


            As necessidades das famílias sempre devem ocupar o centro de nossas atenções, na tentativa de atenuar os efeitos negativos do lado obscuro da personalidade humana, que vez ou outra, comete desatinos e nos prova o quanto somos fracos, frente ao mal que nos habita por dentro.
            Os filhos percebem no tipo de vida que os pais levam o grau de honestidade psicológica que possuem. Eles percebem a hipocrisia, isto é, qualquer atitude moralista dissociada da verdadeira realidade emocional que os pais vivem. Assim, os filhos interpretam se podem ou não imitá-los.
            A vida humana se dá em bases morais, que se verificam no relacionamento das pessoas umas com as outras, e que guardam a capacidade de terem sentimentos humanos. O problema surge quando as crianças não fazem essa relação: viver com os outros é muito bom quando me relaciono bem com elas.
Mas, como podem aprender isso se seus pais não se relacionam bem com elas? Como as crianças aprenderão a se relacionar com os outros, se em casa são mal tratadas, desrespeitadas, tidas como obstáculos aos interesses pessoais dos pais? Ou então, em outro extremo, mimadas, superprotegidas, atendidas como déspotas do relacionamento familiar, como um “reizinho mandão”, cujos desejos devem ser atendidos a qualquer custo, com medo de ficarem “traumatizados”, porque seu temperamento é “difícil”?
Ora, pais: limites nunca traumatizaram ninguém! O que traumatiza é a rejeição quando os filhos fazem algo errado. O amor dos pais precisa ser incondicional, isto é, amam os filhos mesmo quando eles erram.
            Quando os pais rejeitam os filhos, estes se auto-rejeitam, porque se sentem responsáveis pelo mau humor daqueles. E então, para estar à altura dos pais, a criança tenta desesperadamente adaptar-se às formas de comportamento que agradam os pais. Com isso, ela como que se separa do seu lado obscuro, que a levou a fazer algo desagradável, e quanto mais longe a criança estiver da sua “sombra”, menor sua chance de se “reabilitar”, provocando outras situações de mau humor dos pais, repetindo o problema muitas vezes.
            “Se pretendem ter sucesso ao lidar com a sombra dos filhos, os pais precisam aceitar e estar em contato com a sua própria sombra. Os pais que têm dificuldade em aceitar seus próprios sentimentos negativos e suas reações menos nobres, acharão difícil aceitar de modo criativo o lado escuro dos filhos. Mas, aceitação, não significa permissividade. De nada serve à criança ter pais que permitem todo tipo de comportamento. Existem formas de comportamentos que não são aceitáveis na sociedade humana; a criança precisa aprender isso; a criança precisa organizar sua própria capacidade interior de controlar essas formas de comportamento. Uma atmosfera permissiva faz com que se embote a capacidade de a criança desenvolver seu próprio sistema de monitoração do comportamento. O desenvolvimento do ego, então será demasiado para permitir que a criança, quando adulta, possa lidar com a sombra” (Zweig e Abrams. Ao encontro da sombra. Editora Cultrix. São Paulo, 1994).
            Pais, é com paciência, sabedoria e consciência de sua sombra, que se educa melhor os filhos. Se não se pode exagerar na permissividade, não se pode exagerar na austeridade.

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