sexta-feira, 29 de abril de 2011

Mais uma oportunidade para Marília


            No último domingo (27/03), o Jornal da Manhã noticiou que a Comissão de Registros Históricos de Marília prepara uma reparação a “dois dos maiores benfeitores da cidade” – Antonio Pereira da Silva e José Pereira da Silva, pai e filho. A homenagem se dará com a construção de dois monumentos a serem erguidos em frente ao Paço Municipal, na Praça Saturnino de Brito. Segundo João de Almeida, membro da referida comissão: “É uma homenagem justa. Temos de unir a cidade, que cresceu por vontade não apenas do Bento de Abreu como também do Pereira e do Pereirinha”.
            “Temos de unir a cidade”. Portanto, mais do que uma homenagem, a cidade está tendo uma oportunidade de resgatar um aspecto da sua identidade enquanto ajuntamento humano que habita a Serra de Agudos, presente desde seus fundadores.
            Os monumentos, desde a antiguidade, são manifestações simbólicas do estado de alma de um povo. Estética, arquitetônica e psicologicamente, simbolizam o diálogo que precisa haver com o lugar onde vive, à semelhança dos montes de pedras levantados em memória dos entes queridos, no passado.
Para um monumento não ser apenas uma peça ornamental, mas que o seu mais importante propósito seja cumprido, a saber, a função simbólica, é preciso evocar nas pessoas que o veem uma parte dos mesmos sentimentos expressados na imagem que representa. Mais do que pontos turísticos, os monumentos precisam ter um significado, assim como a Estátua da Liberdade em Nova Iorque, ou o Coliseu em Roma.
            Sendo assim, os monumentos aos Pereira devem evocar, além do espírito empreendedor, a relação com o Sagrado manifestada com a construção de uma simples capela, junto ao Patrimônio do Alto Cafezal. É preciso sentir que, como eles, somos seres movidos por impulsos que vão além do suprimento das necessidades materiais.
Esta iniciativa da Comissão de Registros Históricos promove um processo que precisa ser vivenciado por cada um de nós, pois os nossos fundadores propõem dimensões subjetivas importantes no processo civilizatório; o valor mítico pode ser vivenciado na vida urbana, ainda que passado quase um século.
A manifestação do Sagrado, hoje representada tão diversificadamente, ainda tem seu lugar, especialmente num momento em que a cidade se desfaz de sua memória derrubando edificações de madeira, tendendo à homogeneização com outras cidades, alterando para sempre o espaço memorial da urbe, e ameaçando nossa identidade enquanto povo, tornando nossas ruas anoréxicas devido à violência, maníacas devido ao trânsito a cada dia mais difícil, paranoicas devido ao delírio de grandeza que sugere a alguns de seus habitantes, e neurótica devido à inóspita, apática e agressora relação humana, como indicam os carros de som com seus anúncios comerciais, ou fogos que explodem a qualquer hora do dia ou da noite por exemplo, tornando as ruas um lugar de desabrigo e perturbação, que afugenta a imaginação e a concentração espiritual. Uma cidade desmemoriada não sobrevive, pois como permanecerá sem os alicerces estruturais que mereciam ser preservados para futuras gerações?
            Conforme o psicólogo pós-junguiano James Hilman (1926-): “Restauramos a alma quando restauramos a cidade em nossos corações individuais, a coragem, a imaginação e o amor que trazemos para a civilização” (Cidade e Alma. São Paulo: Studio Nobel, 1993).

Nenhum comentário:

Postar um comentário