domingo, 24 de abril de 2011

Mensagem de Páscoa


Um dos discípulos não acredita no que vê. Seus olhos só enxergavam os lençóis e o lenço que havia sido colocado sobre a cabeça de Jesus. Porém, o outro discípulo: “viu e creu” – João 20.8. Duas atitudes sobre um mesmo fato. Todavia, o texto de Atos 10.34-43, nos indica que é possível mudar de opinião – o apóstolo Pedro que não havia acreditado que Jesus havia ressuscitado, naquela manhã, passa a anunciar: “a este ressuscitou Deus no terceiro dia e concedeu que fosse manifesto” vs. 40. Pedro anuncia que era uma das testemunhas da ressurreição de Jesus, ao romano Cornélio, apresentado como “homem reto e temente a Deus e tendo bom testemunho de toda a nação judaica” – vs. 22, como que querendo dizer, que se Cornélio estivesse junto ao túmulo vazio, naquela manhã de domingo, ele creria, assim como João, o “outro discípulo” – João 20.4,5.
A vida de Pedro, realmente, foi transformada depois que creu. O texto nos deixa a entender que aquele que crê passa logo a comunicar a fé para todas as pessoas, indiscriminada e livremente, pois “reconhece, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas (...) por meio do nome de Jesus, todo aquele que nele crê recebe remissão de pecados” – Atos 10.34. De fato, a transformação que Pedro teve em sua vida foi muito grande! Anuncia a um romano, que Deus tem a mesma disposição que teve para com ele – se Deus perdoa os pecados de todo aquele que crê em Jesus, mesmo daquele que não acreditou de imediato, apesar de ver os sinais da Sua ausência, também, de um romano que creu nAquele que “andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo” – vs. 38; e, isto sendo anunciado pelo judeu Pedro demonstra o quanto sua visão de vida sofrera transformação.
Pedro poderia ter levado Cornélio a se sentir culpado pela crucificação de Jesus, pois como centurião romano obedecia ordens do governador de Roma que reinava em Israel, e que teve participação direta no julgamento e condenação de Jesus à morte. No entanto, Pedro apela a Cornélio que considerasse que Jesus fora “pendurado no madeiro”, porque andou por toda a parte fazendo o bem. Pedro levou Cornélio a enxergar os sinais de Jesus, assim como vira os lençóis e o lenço no sepulcro, e não havia se lembrado do bem que Jesus havia feito, e que tantas vezes ele presenciou. A ressurreição de Jesus transformou o judeu Pedro, que o levou a aprender a fazer o bem ao romano Cornélio, deixando de lado o seu orgulho, o seu egoísmo, o seu sentimento de se ver grande e melhor do que os outros. Fazer o bem aos outros, é sinal de que acreditamos no Jesus que não está no túmulo, porque ressuscitou dos mortos.
Afinal, é esta a mensagem de Paulo aos coríntios – I Coríntios 5.6-8 – “Não é boa a vossa jactância” – Paulo vê que a arrogância é o grande empecilho para celebrar a festa da Páscoa. O Apóstolo Paulo compara a arrogância ao fermento, que por mínima que seja, pode fazer com que a pessoa se sinta tão superior aos demais que não percebe que não é ela que se justifica dos seus pecados, mas sim “Cristo, nosso Cordeiro Pascal, imolado” – vs. 7. E, ensina a “lançar fora (...) o fermento da maldade e da malícia”, antes “celebremos a festa com os asmos da sinceridade e da verdade” – vs. 8.
Precisamos comer os “asmos da sinceridade e da verdade”, quer dizer, sermos sinceros e verdadeiros para conosco mesmos, para percebermos o quanto somos tão imperfeitos quanto aqueles que julgamos e condenamos. Só quem é sincero e verdadeiro consigo mesmo, sabe o quanto é importante fazer o bem aos outros, e principalmente àqueles considerados inferiores aos seus olhos, porém, para Deus não é diferente, antes, recebe dEle o mesmo amor e perdão, pois do contrário não poderíamos crer nEle.
O texto de João 20.1.9 nos apresenta pessoas que se formos arrogantes, facilmente as consideramos inferiores a nós. Maria Madalena prostituta convertida, Pedro um iletrado, João um pescador. Os três são apontados pelo texto bíblico - “ainda não tinham compreendido a Escritura, que era necessário ressuscitar ele dentre os mortos” – vs. 9. Ela, diante do túmulo aberto, disse: “Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram”; Pedro e João correram juntos, e diante do mesmo cenário, têm reações tão diferentes: um vê e crê, o outro só vê, e procura entender, mas não entende, por isso não crê, e voltam para casa; e Madalena “permanece junto à entrada do túmulo, chorando. Viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus, suponha ser Ele o jardineiro” – vs. 10, 11, 14, 15. Dá para ver o quanto somos parecidos com eles? Perguntemo-nos: considerando as grosseiras e públicas fraquezas de Maria Madalena, Pedro e João, teriam eles chances de serem membros de nossa Igreja? Espero que sim; pois que compartilhamos da mesma natureza humana deles; e se eles podem, eu também posso, e você também pode pertencer à Igreja de Jesus Cristo.
A pressa de compreender as coisas nos prejudica. Queremos que tudo seja explicado; não toleramos dúvidas, porque temos medo de nos sentir inferiores aos outros. Quanta preocupação com as certezas, só para nos sentirmos melhor que os outros! Como pode o “conhecimento” nos deixar tão cheio de nós mesmos! E, onde fica: “Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável”? Quem deve julgar se o que é feito pelos outros é justo ou não, aceitável ou não, é Deus, pois Ele é o único que pode julgar! Quem somos nós para julgar? A nós nos cabe comer o pão da sinceridade e da verdade conosco mesmos.
Maria Madalena, Pedro e João, se alimentavam deste pão, principalmente depois de terem se convertido ao Senhor. E, você, tem comido deste pão? Lembre-se de se alimentar do “Cordeiro Pascal” – Jesus morreu para que os seus pecados fossem perdoados, e para que os pecados dos outros, também fossem perdoados. O “Cordeiro Pascal” é alimento para todas as pessoas, que se vêem necessitadas do perdão de Deus, porque se percebem imperfeitas, grosseiros, baixos, incapazes de acertar sempre, do mesmo modo como é você.
        “Celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade” – I Coríntios 5.8.
        Aprofundemos ainda mais o sentido destas palavras: Não estariam elas nos desafiando a passar diariamente pela experiência da Ressurreição?
“Celebrar a festa não com o velho fermento”, significa transformar, diariamente, a falta de educação em ternura, a insatisfação em contentamento, a mentira em verdade, a dissimulação em honestidade, a maldade em caridade, a opressão em liberdade, a indiferença em solidariedade.
“Celebrar a festa não com o fermento da maldade e da malícia”, significa transformar, diariamente a nossa sede por recompensas em reflexão, de cinismo em vergonha, de perseguições em acolhimento, de exploração em amizade, de moralismos em tolerância, de preconceito em convivência, de discriminação em intercessão, de maledicência em bem-dizer.
“Celebrar a festa não com o velho fermento”, também significa se empenhar de fazer da melancolia, prazer; da inveja, alegria; da morbidez, beleza; daquilo que é trágico, utopias; das perdas, conquistas; da altivez, humildade; da arrogância, simplicidade; da ambição, igualdade; do consumismo, sentido de vida; das exigências aos outros, autocrítica.
“Celebrar a festa com os asmos da sinceridade e da verdade”, significa, entre outras coisas: transformar ocupação em lazer, extinção em preservação, traição em diálogo, reducionismo em memorial, imediatismo em paciência, iconografia em história, grotesco em cordialidade, fundamentalismos em diversidades, sensacionalismo em conteúdo, midiático em bom-senso, corrupção em temor, desigualdade em fraternidade, intolerância em paz, auto-ajuda em sabedoria, técnica em proximidade, esoterismo em espiritualidade, enganos em acertos, isolamento em pertencimento, ter em ser, descartável em permanência, alienação em consciência, banalização em valores, magia em espera, igreja em religião, relativismo em padrão ético, morte em vida.
“Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado.” – I Coríntios 5.7 – Nisto está o sentido da Páscoa experimentado por Pedro, Cornélio, Paulo, Maria Madalena, João, os coríntios – eles se transformaram em “nova massa”. Oxalá, eu e você sejamos como eles! Boa Páscoa!

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