sexta-feira, 29 de abril de 2011

Carregando os sonhos


           Você sabia que uma pessoa com 60 anos de idade já dormiu 20 anos da sua vida, e destes, 05 anos inteiros ela sonhou? Isto é mais do que qualquer atividade intensa que alguém possa experimentar, e que a natureza nos dá de presente. Esta é uma das principais razões por que os sonhos não podem ser descartados, mas antes, carregados, ou seja, trabalhados.
            Para cumprir este exercício psicológico, é preciso levar em conta que os sonhos expressam algo que existe dentro de nós, a nível inconsciente.
Tudo com o que sonhamos são partes de nós mesmos, que se nos apresentam como símbolos, e do funcionamento do nosso mundo interno.
Em cada um de nós existem vários “eus”, que funcionam de modo diferente do que sabemos a nosso respeito, conscientemente. Por isso podemos afirmar: sonhamos com nós mesmos. As pessoas, lugares, objetos e situações que vemos nas imagens oníricas são partes de nós que precisam ser conhecidas, caso queiramos viver a vida para a qual fomos criados, mas que de alguma forma foi reprimida ou renegada, quer pela educação familiar, escolar, cultural, social e/ou religiosa.
Para o autor dos famosos livros He, She e We, Robert A. Johson (1921-) estas imagens são: “Componentes psicológicos autônomos: cada um tem sua própria consciência, seus próprios valores, desejos e pontos de vista. Cada um nos leva a uma direção diferente; cada um tem uma força ou qualidade diferente para contribuir em nossa vida; cada um tem seu próprio papel em nossa personalidade total” (A chave do reino interior. São Paulo: Mercuryo, 1989, p. 57).
Precisamos trabalhar os sonhos, pois necessitamos conhecer as várias possibilidades diferentes de sermos nós mesmos. Não somos únicos; somos constituídos de uma grande diversidade muito forte e poderosa. “Parte de mim vive na mente consciente, e parte de mim – o caráter complementar que compõe o todo – está escondida no inconsciente” (A chave do reino interior. p. 59).
Trabalhar os sonhos é mais do que simplesmente relatá-los; implica em experimentá-los, isto é, perceber-se dentro deles, resgatar as emoções sentidas enquanto eram vivenciados. Este, talvez, seja o principal motivo pelo qual os consideramos estranhos à vida diurna, simplesmente porque reprimimos qualquer sentimento próprio a que eles querem nos ligar. Preferimos nos ligar aos sentimentos externos, por resistir às transformações que nos exigem, apesar de sentirmos esta necessidade.
Estabeleça o hábito de tomar nota dos sonhos. Mantenha próximo à cama um caderno, caneta ou lápis, e anote-os, evitando assim que se percam na escuridão da noite do esquecimento. Estas anotações podem ser revistas a qualquer hora, e você vai perceber que alguns temas oníricos se repetem, demarcando a sua importância e necessário trabalho a ser empreendido pessoalmente, ou com algum profissional. Aos poucos os sonhos deixarão de serem considerados bobos, ou pertencentes a um território impenetrável, mas principalmente, você estará mais perto de quem você é.
Robert Bosnak, analista junguiano holandês, recomenda que relatemos os sonhos pelo menos duas vezes, e para outras pessoas, pois pode ser que alguém nos ajude a prestar atenção em alguma imagem que nos pareça irrelevante, mas que tem um importante significado simbólico (Breve curso sobre sonhos. São Paulo: Paulus, 1994).

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