quarta-feira, 20 de abril de 2011

Carl Gustav Jung e a morte


MORTE: UMA VISÃO EM CARL GUSTAV JUNG

FACULDADE DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – ACEG
AUTORES
PERES, Sílvio Lopes
Teólogo, Pedagogo, Mestre em Ciências da Religião, Especialista em Docência do Ensino Superior e Acadêmico do Curso de Psicologia – FASU/ACEG
AGOSTINHO, Márcio Roberto
Coordenador do Curso de Psicologia - FASU/ACEG – GARÇA/SP – BRASIL
SANTOS, José Wellington
Docente do Curso de Psicologia - – FASU/ACEG

RESUMO
Este artigo apresenta a perspectiva de Carl Gustav Jung (1875-1961) acerca da morte. Sem levar em consideração a riqueza simbólica, a qual se dedica a Psicologia Profunda, este artigo apresenta uma breve revisão da literatura junguiana sobre o assunto, com destaque às opiniões, como médico, de Jung, quanto aos aspectos do fenômeno biológico da morte e, as possíveis conseqüências e razões para sua existência. Pretende-se, com isso, contribuir para a atuação de profissionais da área da saúde e de áreas afins, que se defrontam com a realidade da morte, ampliando sua compreensão acerca do seu acontecimento.

INTRODUÇÃO
A morte é um dos acontecimentos mais marcantes da vida humana, e por isso mesmo objeto de reflexões científicas, filosóficas, artísticas, teológicas, desde a origem da humanidade, ainda que na maioria das vezes, enquanto fenômeno biológico é tratado como tabu.
Neste caso, a morte é um assunto relegado em segundo plano, escondido ou encoberto até mesmo fisicamente, como se fosse possível mantê-lo longe dos olhos, fato que se verifica facilmente, pois, os mortos não são colocados onde residiam, como antigamente, antes, são “velados” em lugares dedicados, exclusivamente, para este fim. Então, vivemos como se a morte não existisse. Segregada nos hospitais, parece que temos de separar os mortos dos vivos. Falar sobre a morte tornou-se inadequado, de mau gosto, talvez, na tentativa de ocultar sua própria natureza. Nossa cultura tem se revelado incapaz de compreender e aceitar a morte, e, a tem tratado como um mal absoluto, a maior das tragédias. No entanto, nem sempre foi assim.
Nas Sagradas Escrituras a morte é descrita como “o último inimigo a ser destruído” (BÍBLIA, I Coríntios 15.26, 2005, p. 242), talvez por considerar as conseqüências que provoca à vida humana, num quadro que a descreve como decrépita: o brilho da vida não é mais o mesmo, pois este se dissipa. Sucessos, como quando o indivíduo era jovem, já não são mais possíveis, mesmo com muito esforço. Os braços, fracos e, as pernas, trêmulas. A boca, não mastiga direito. Os olhos, cansados e fracos sofrem. Os lábios tremem quando se quer dizer as palavras. Os cabelos brancos e a pele manchada, não mais viçosa. Se não fosse a ajuda de outras pessoas não há mobilidade alguma. É, ainda, na poesia hebraica semelhante ao fio de prata que se rompe, o copo de ouro que se parte em pedaços ou o vaso que se quebra e uma corda que se arrebenta na hora que mais precisava dela. E, conclui: O pó voltou de onde veio. O espírito voltou a Deus, conforme se encontra em Eclesiastes, Capítulo 12.

MATERIAL E MÉTODOS
O presente artigo é fruto de uma investigação bibliográfica, consulta realizada no acervo dos autores, visando sistematizar os dados referentes ao assunto. Os materiais foram selecionados com base nos seguintes critérios: pertinência ao assunto; confiabilidade da fonte e adequação ao objetivo da pesquisa. O objetivo geral do trabalho é descrever ainda que brevemente, algumas idéias de Carl Gustav Jung (1875-1961), sobre o tema proposto acima.

RESULTADOS
Para C. G. Jung, psiquiatra suíço, formador da Psicologia Profunda, a morte, além de um “mito interminável só apareceu devido a um estúpido mal-entendido ou negligência” (JUNG, 2007, pp. 15, 72), e, que “é frequente sonhar com a própria morte” (JUNG, 1990, p. 30), e também:
“Uma terrível brutalidade – nenhum engodo é possível! – não apenas enquanto acontecimento físico, mas ainda mais como um acontecimento psíquico: um ser humano é arrancado da vida e o que permanece é um silêncio mortal e gelado. Não há mais esperança de estabelecer qualquer relação: todas as pontes estão cortadas. Homens a quem se desejaria uma longa vida são ceifados na flor da idade, enquanto os inúteis atingem uma vida avançada. Eis uma cruel realidade que não se deveria dissimular. A brutalidade e a arbitrariedade da morte podem provocar no homem tal amargura que ele chega a descrer num Deus misericordioso, na justiça e na bondade” (JUNG, 1988, pp. 272-273).
                É notável tal afirmação, pois com ela Jung registra, primeiramente, sua confissão religiosa, protestante, que não acredita numa comunicação com os mortos. Para Jung, a morte desencadeia a amargura que pode levar a “descrer num Deus misericordioso, na justiça e na bondade”. A razão pela qual Jung trata assim a morte é devido ao avanço da violência que o Continente Europeu, estava submetido, sob as duas grandes guerras mundiais, que sob governos ditatoriais se sustentavam graças às políticas bélicas que espalhavam pânico, insegurança e morte por todo o mundo, e que teve em Jung um dos mais ardorosos críticos.
Jung identifica que tal descrença era devido ao fato de muitos tratarem a morte sem sentir incômodo algum, mas, como fato banal e comum, a que ninguém deve refletir ou, se ocupar, no sentido de compreender e buscar as razões pelas quais tal acontecimento era tão repetido e acometia milhões de pessoas a ponto de se verificar nas obras de arte.
Ao se referir a uma obra do pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973), afirma:
“(...) A vida diurna agarra-se a ele e uma mulher com a criança chega a ele, advertindo-o. Assim como o dia para ele é mulher, assim também é a noite, e isto, em linguagem psicológica, significa a alma luminosa e a alma obscura (anima). A alma obscura aguarda-o sentada e o espera no crepúsculo azulado, despertando pressentimentos patológicos. (...) A objetividade é marcada pela morte, expressa na obra-prima horripilante das prostitutas adolescentes, sifilíticas e tuberculosas. (...) aquele que não segue o ideal já reconhecido do belo e do bom, mas a força demoníaca da atração pelo feio e pelo mal. Esta vem à tona no homem moderno através de Lúcifer e do anticristo, gerando uma sensação de fim de mundo, envolvendo justamente esse mundo claro da luz do dia com as neblinas do Hades, contaminando-o com uma decomposição mortal para finalmente dissolvê-lo, como numa região de terremoto, em fragmentos, linhas de ruptura, resíduos, escombros, farrapos e destroços inorgânicos (...)” (JUNG, 1985, p. 122).
Em outro lugar, Jung ainda descreve a morte como “uma grande concluidora, inexoravelmente, (...) a morte é o fim do homem empírico e a meta do homem espiritual” (JUNG, 1991, p. 52) e, considera que enquanto há vida, temos necessidade de nos conscientizar de tudo aquilo que contraria sua exuberância e beleza.
“Tudo o que ainda não está onde deveria estar, e tudo o que ainda não pereceu, e que devia ter perecido, sente medo do fim, isto é, do ajuste final. Sempre que possível, esquivamo-nos de tornar conscientes aquelas coisas que ainda faltam à totalidade, e, com isso, impedimos a conscientização do Si-Mesmo e, desta forma, a prontidão para a morte” (JUNG, 1991, p. 52)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
                Vimos que para Jung a morte biológica é um fator de extrema importância devido ao impacto que causa. Nada justifica o desdém ou negação da sua realidade. Antes, devido ao descaso para com a morte, a “descrença em Deus” é a pior das conseqüências. Tal “descrença” se dá à medida que aceitamos o “mundo inferior” com suas atrocidades como se fosse normal, como se diz comumente: “o mundo é assim mesmo!”, e, como se nada pudesse ser feito para se apurar os reais motivos que o levam a ser assim. Até quando estaremos desperdiçando a vida?

REFERÊNCIAS
ALVES, Rubem. Ostra Feliz não faz Pérola. São Paulo, Editora Planeta do Brasil, 2008.
JUNG, C. G. Símbolos da Transformação: Análise dos prelúdios de uma esquizofrenia. 2ª Edição. Petrópolis, Vozes, 1989.
 __________ O Espírito na Arte e na Ciência. Petrópolis, Vozes, 1985.
 __________ Civilização em Transição. Petrópolis, Vozes, 2007.
__________ Ab-Reação, Análise dos Sonhos, Transferência. Petrópolis, Vozes, 1990.
__________ AION: Estudos sobre o Simbolismo do Si-Mesmo. Petrópolis, Vozes, 1982.
__________ Um Mito Moderno sobre Coisas Vistas no Céu. Petrópolis, Vozes, 1991.

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS
AGOSTINHO, Márcio Roberto
e-mail: casteloagostinho@yahoo.com.br
PERES, Sílvio Lopes
e-mail: silviosilvia@ig.com.br
SANTOS, José Wellington - zwell2@zipmail.com.br

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