quarta-feira, 20 de abril de 2011

Relação Educador-Educando

PROPOSTA ARQUETÍPICA DE RELAÇÃO EDUCADOR-EDUCANDO PARA A REALIZAÇÃO DO FENÔMENO ENSINO-APRENDIZAGEM

AUTORES

PERES, Sílvio Lopes
Pedagogo, Mestre em Ciências da Religião, Especialista em Docência no Ensino Superior e Acadêmico do Curso de Psicologia – FASU/ACEG
AGOSTINHO, Márcio Roberto
Coordenador do Curso de Psicologia - FASU/ACEG – GARÇA/SP – BRASIL

RESUMO
Este artigo apresenta, através de uma investigação bibliográfica, a proposta de Carl Gustav Jung (1875-1961) para a educação, no sentido de se compreender o fundamento do fenômeno ensino-aprendizagem, o qual só é possível quando educadores e educandos descobrem e vivenciam a relação arquetípica presente no inconsciente de ambos.

INTRODUÇÃO
A relação educador-educando tem despertado a atenção de pedagogos, psicólogos e outros estudiosos, na tentativa de compreender qual a relação destes com o fenômeno ensino-aprendizagem. O relacionamento educador-educando e vice-versa pode ser analisado em todos os contextos educacionais, a saber, nas salas de aulas, onde se trava a comunicação das disciplinas curriculares, bem como nos momentos informais dentro e fora das instituições de ensino e em todos os níveis: infantil, fundamental, médio, universitário e de pós-graduação. No entanto, alunos, pais, professores e funcionários dos estabelecimentos educacionais têm vivido em constantes tensões, quando o assunto é o relacionamento entre si. Qual o fator principal para que se dê o ensino-aprendizagem? A relação humana, tem alguma contribuição na construção desse fenômeno ou os métodos pedagógico-didáticos, são suficientes?
Para iniciarmos consideremos a letra da música de Antonio Pecci Filho (1946), o Toquinho, “O Caderno”, composta em 1983.
“Sou eu que vou seguir você/Do primeiro rabisco até o be-a-bá./Em todos os desenhos coloridos vou estar:/A casa, a montanha, duas nuvens no céu/E um sol a sorrir no papel./Sou eu que vou ser seu colega,/Seus problemas ajudar a resolver./Te acompanhar nas provas bimestrais, você vai ver./Serei de você confidente fiel,/Se seu pranto molhar meu papel./Sou eu que vou ser seu amigo,/Vou lhe dar abrigo, se você quiser./Quando surgirem seus primeiros raios de mulher/A vida se abrirá num feroz carrossel/E você vai rasgar meu papel./O que está escrito em mim/Comigo ficará guardado, se lhe dá prazer./A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer./Só peço a você um favor, se puder:/Não me esqueça num canto qualquer./Só peço a você um favor, se puder:/Não me esqueça num canto qualquer”. (PECCI, 1983)

Esta letra, expressa a presença da educação, representada no caderno, como recurso didático de anotação das diversas fases da vida humana “do primeiro rabisco até o be-a-bá”, referindo-se ao ensino infantil, até “quando surgirem seus primeiros raios de mulher”, referência clara aos outros ciclos: fundamental, médio, graduação e pós-graduação, que pode não se dar devido ao “feroz carrossel”, que levará a aluna a “rasgar meu papel”, porém, o poeta não se esquece que a educação é um processo que pode ser retomado a qualquer momento, pois “vou seguir você”, enquanto “a vida segue sempre em frente”, e encerra com um apelo “só peço a você um favor, se puder, não me esqueça num canto qualquer”. Para o poeta, ainda, a educação é “prazer”, talvez indicando, um dos grandes desafios que a ciência da pedagogia tem à sua frente.
O “prazer” é vivenciado pelas pessoas envolvidas no processo ensino-aprendizagem, isto é, no relacionamento que têm entre si. No caso do autor de “O Caderno”, conforme os dados biográficos que constam de sua página oficial na Rede Mundial de Computadores (INTERNET), o relacionamento humano foi a peça-chave para o aprendizado de violão, iniciado aos 14 anos de idade:
“(...) com Edgard Gianullo, enriqueceu conhecimentos harmônicos, e aprimorou esses conhecimentos em função da amizade com Oscar Castro Neves. O estilo de Baden Powell tornou-se irresistível ao então iniciante Toquinho, que, a fim de burilar a própria personalidade como violonista, buscou em Isaias Sávio a intimidade necessária com o violão clássico. Já compositor, fez um curso de orquestração com Léo Peracchi”.
                 

MATERIAL E MÉTODOS
O presente artigo é fruto de uma investigação bibliográfica, consulta realizada no acervo dos autores, visando sistematizar os dados referentes ao assunto. Os materiais foram selecionados com base nos seguintes critérios: pertinência ao assunto; confiabilidade da fonte e adequação ao objetivo da pesquisa. O objetivo geral do trabalho é descrever ainda que brevemente, algumas idéias de Carl Gustav Jung (1875-1961), sobre o tema proposto acima.

RESULTADOS
O relacionamento entre aluno e professor é bom à medida que aquele é levado a se adaptar melhor a realidade que encontra fora de casa e aprende a enfrentar os desafios que surgem à sua frente levado a adquirir e assumir responsabilidade por si mesmo, e este quando se apresenta como “bom exemplo” de ter passado pelo mesmo processo, conforme pode ser verificado no exemplo do compositor Toquinho.
Neste sentido podemos chamar a relação educador-educando de relação arquetípica. A vivência do arquétipo educador e do arquétipo educando é a base da relação arquetípica. Podemos dizer que a relação educador-educando é uma relação arquetípica se levarmos em conta a definição de arquétipo, pois tal relação é vivenciada intensamente nas emoções de ambos, os quais levam para a relação uma disposição inata para agirem ora como educador, ora como educando. Desde muito tempo é assim – alguns se colocam no papel de educador outros no de educando, indicando com isso que há uma disposição natural e orgânica que constitui os humanos, isto é, há uma disposição inata para se comportar ora como um, ora como outro, dependendo da posição que se ocupa na relação, sendo assim, portanto,  um arquétipo bipolar. Cercada de tantas emoções e historicamente comprovada, a relação educador-educando é arquetípica porque se podem verificar seus efeitos na vida de ambos, podendo ser positivos e negativos, quando se observa o fenômeno ensino-aprendizagem.
A relação educador-educando é uma via de duas mãos, onde cada um despertará no outro a relação intra-psíquica que precisam experimentar e manter viva, mas cada um fará isto partindo da relação que têm consigo mesmos, com sua contra-parte, isto é, o educador com o educando interior, e o educando com o educador interior. Na opinião de WENTH:
“Somente um professor que esteja em processo de aprendizagem é que pode levar/despertar em seus alunos a vontade de aprender. É somente com a criança interna ativa que podemos compreender a externa, e levá-la a se compreender. A ação pedagógica do professor interno é tão importante quanto a do professor externo no sentido de que, algo na psique do aluno deve cooperar para que ele aprenda, já que ele estruturará a informação a seu modo, fazendo um sentido para a sua vida” (WENTH, 2003, p. 4, 5).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diferentemente das propostas cartesianas e positivistas representadas por Piaget e Freud, por exemplo, a proposta arquetípica apresentada por Jung, pode representar a solução dos problemas com o ensino e a aprendizagem. Através de um retorno à subjetividade educadores e educandos redescobrem o significado da relação entre ambos, porque percebem que a mesma parte da relação que têm consigo mesmos. Tal proposta pode ser acusada de ser anti-racional, por não propor nenhum método, e a razão principal para isso é que se trata de uma proposta inovadora, ainda a ser testada. Quem se habilita?
                              
REFERÊNCIAS
CHAVES, M. E. Educação e Psicanálise. http://www.cpmg.org.br/artigos /educacao_psicanalise.pdf> 2002. Acesso feito 26/09/09
JUNG, C. G. Desenvolvimento da Personalidade, O. Petrópolis: Vozes, 1983.
SHARP, D. Léxico Junguiano: Dicionário de Termos e Conceitos. São Paulo: Cultrix, 1996.
WENTH, R. C. Psicologia Analítica e Educação: Visão Arquetípica da Relação Professor-Aluno. <http://www.symbolon.com.br/artigos/psicoanalitica.htm> 2003. Acesso feito em 24/03/09
Site Oficial do Toquinho - <http://www.toquinho.com.br/> Acesso feito em 23/04/09.

ENDEREÇOS ELETRÔNICOS
AGOSTINHO, Márcio Roberto
e-mail: casteloagostinho@yahoo.com.br
PERES, Sílvio Lopes
e-mail: silviosilvia@ig.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário