quarta-feira, 20 de abril de 2011

Para Sexta-feira santa


“Pai, nas tuas mãos, entrego o meu espírito” - Lucas 23.46

Por mais difícil que tenha sido para Jesus suportar o sofrimento a que estava submetido, Ele ainda tem condições para nos comunicar em palavras a Sua visão de mundo e de Si mesmo.
Suas últimas palavras são uma declaração da Sua experiência com a vida.
Não se trata de uma despedida ansiosa e apavorada.
Mais uma vez Ele fala de Si mesmo, e do que sentia quanto à vida.
Estas palavras revelam que Sua fé não era teoria, mas experiência.
Ele não fala primeiro, para depois ver se faz algum sentido; fala do que viu desde a manjedoura.
Ele não está dependurado numa expectativa mágica nem alheia; mas, porque sabe que pode confiar nas mãos do Pai, diz o que diz.
Na hora da morte Ele se entrega às mãos dAquele em quem confiara, e sempre experimentara os Seus cuidados, o Seu livramento, a Sua provisão.
Diante da última realidade pela qual passava, tão dura e bruta, Ele se entrega à suavidade das mãos mais fortes que podiam, sustentá-Lo.
Suas palavras alimentam a vida que viveu, do contrário enlouqueceria.
Ele não procura entender racionalmente a Sua morte, mas se volta para aquilo que era invisível aos olhos humanos.
Ele se alimenta do gemido dos humildes de espírito, do grito dos mansos, da fome dos famintos, da visão dos limpos de coração, da emoção dos solidários, da crença dos que lutam pela paz.
Estas últimas palavras não são de alguém que se entrega como um derrotado, nem a uma despedida melancólica, mas soam do mesmo modo quando disse as primeiras palavras do Seu ministério: “Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça” – Mateus 3.15 - ao se apresentar à beira do Jordão, por ocasião do Batismo.
Como você e eu nos apresentamos diante das difíceis circunstâncias da nossa vida?
Quanto melhor for a nossa visão de vida e de nós mesmos, mais saudáveis serão as nossas reações às situações que se impõem sobre nós.
         Ficamos mais ansiosos quanto mais ansiosos agimos em relação às dificuldades. Nestas horas comunicamos o que sentimos sobre nós mesmos, e se nos sentimos ansiosos, o melhor tratamento é nos valermos das experiências que tivemos desde a nossa infância, e não tentar encontrar uma explicação racional, nem buscar soluções mágicas, como fazem os supersticiosos, e os que se iludem com falsas consciências.
Lembre-se das experiências já vividas, das vezes em que as mãos do Pai o sustentaram; isto ajuda a não enlouquecer.
Estas lembranças estão guardadas no coração; só os olhos da alma as enxergam. Por isso são invisíveis, e por isso, preciosas, porque são suas.
Lembre-se das outras vezes em que você gemeu, gritou, chorou, creu, e foi consolado, libertado, socorrido, sustentado, alimentado.
Você e eu precisamos “cumprir toda a justiça”, e quanto mais pensamos sobre os fatos que nos acontecem, menos aceitamos o que nos cabe passar.
É indiferente o que pensa o mundo sobre as nossas experiências com Deus; elas são a única coisa que nos dá sentido, e nos faz ver beleza nesta vida, porque nos ajuda a viver, por piores que sejam as circunstâncias que temos de enfrentar.

Rev. Sílvio Lopes Peres
Membro do Presbitério de Bauru
silviosilvia@ig.com.br
http://psijung.blogspot.com/

Marília, 22/04/11.

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