sexta-feira, 29 de abril de 2011

Não tem sonho bobo


            Estudos indicam que o sono REM (Movimentos Rápidos dos Olhos, em inglês), se inicia mais ou menos 80 minutos depois do adormecimento, com duração de 2 a 10 minutos, e se repete de 3 a 6 vezes, o que corresponde ao número de sonhos que temos por noite. Em 1953, o fisiologista e psicólogo norte-americano Nathaniel Kleitman (1895-1999) foi o primeiro a registrar as alterações fisiológicas que se sucedem durante o sono (BERAGANTIM, R. F. C.; GUERRA, M. e FORTUNATO, J. S. Sono REM e Ontogênese. Revista Portuguesa de Psicossomática. Vol. 5, Ano 002. Porto, Portugal, 2003, pp. 127-128). Os estudos nesta área, através de eletroencafalografias realizadas em clínicas especializadas, têm ajudado a compreender o sofrimento mental por que passam depressivos, ansiosos, esquizofrênicos, entre outros.
            Quando o assunto é a interpretação dos sonhos, a diversidade e a divergência são significativas entre as diferentes escolas do pensamento psicológico; isto não se deve às aparentes contradições, mas porque os sonhadores são diferentes uns dos outros.
A interpretação dos sonhos foi uma das razões por que S. Freud (1856-1939) e C. G. Jung (1875-1961) se afastaram, depois de quase 7 anos (1906-1913) de amizade, viagens e estudos. Para Freud, o sonho expressa desejos inconfessáveis pelo paciente, enquanto que para Jung é “um autorretrato espontâneo, em forma simbólica, da real situação no inconsciente” (A Natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 201).
Os dois pensadores, porém, têm em comum que nenhum sonho é insignificante, sentimento que geralmente acomete muitas pessoas. Quando comentam algum sonho, é comum se ouvir: “Tive um sonho bobo”. Contudo, deveriam considerar as suas próprias limitações para o seu entendimento, e não as do sonho.
Todo sonho merece ser analisado, pois seu conteúdo sempre está ligado a algo de que o sonhador está precisando para viver melhor, porque segundo Wolf: “o sonho compensa as deficiências da personalidade, ao mesmo tempo que a previne dos perigos de seus rumos atuais” (WOLFF, J. R. Sonho e loucura. São Paulo: Ática, 1985, p. 26). Este é o objetivo mais importante na análise de sonhos, e não a ampliação de um conhecimento cognitivo, por mais interessante e curioso que possa parecer.
Na perspectiva de Jung, a significação dos sonhos não é fixa, quer dizer: uma imagem onírica pode ter vários significados, inclusive para a mesma pessoa; e isto nos ajuda a não aceitar textos espalhados em livros e/ou em endereços eletrônicos que nos apresentam interpretações prontas.
Para uma apropriada compreensão dos sonhos, deve-se levar em conta entre muitos, estes fatores: o contexto de vida a que o sonhador está submetido, e quais caminhos eles apontam para que cumpra o seu destino como pessoa. Para Freud: “Todo sonho se revela como uma estrutura psíquica que tem um sentido e pode ser inserida num ponto designável nas atividades mentais da vida de vigília” (A interpretação dos sonhos. São Paulo: Folha de S. Paulo, 2010, p. 09).
Muitas vezes nos encontramos em situações para as quais não encontramos saídas viáveis, e ficamos como que encalhados, sem saber dar o rumo mais adequado para elas. Se você se encontra nesta situação, pode ter certeza que os seus sonhos estão indicando o que pode ser feito. Carregue-os dentro de você, e logo sentirá que a vida tomará um bom caminho.

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